13/01/2007 10h00
DE DANIEL DE SÁ PARA FRASSINO
Meu Caríssimo Amigo
Obrigado, antes de mais, por confiar em mim desta maneira, apesar de não me conhecer pessoalmente. Eu é que queria pedir desculpa por ter mandado um simples envelope com uma única folha do jornal dentro. Se tiver gosto em conhecer o suplemento completo, pedirei no Jornal que me dêem outro. Mas, como costumo ter envelopes de porte pré-pago, e temendo ultrapassar o peso que obrigaria à compra de selos, mandei assim mesmo. É que, nestes dias, o correio costuma estar com muitos clientes, que vão fazer os pagamentos de água, electricidade e telefone, além dos pensionistas que por este meio recebem as pensões. Afinal nem o peso estava próximo dos 20 gramas, nem os clientes eram tantos como eu imaginara. Num raio de poucas centenas de metros tenho tudo aqui à volta. A igreja, dois bancos, dois mini-mercados, a padaria ( quase se sente o cheiro do pão fresco em minha casa ), uma agência de seguros, a Santa Casa, o Centro Paroquial, uns quantos bares, os correios, a farmácia, o Centro de Saúde. Um privilégio. Quanto aos seus poemas, o único senão que em geral neles se nota de vez em quando é a procura de alguma palavra forçada por causa da rima. No caso destes, isso levou-o mesmo a distrair-se numa imprecisão vocabular. Não deveria ter dito "real montado", porque esta palavra como substantivo não é sinónimo de animal de montaria. Como tal só pode dizer-se "montada". Mas os temas estão bem escolhidos e bem trabalhados, e a sátira aos "reis do Ocidente" é muito apropriada. Por certo terá sido distracção o chamar "Buch" ao Bush". Tanto mais que "Buch" é livro, em Alemão, e ele não merece tal honra... ... Ficou uma parte da sua mensagem por responder ou comentar. Refiro-me ao desalento dos "artistas menores". O problema é que não há artistas menores, todos fazemos parte do mesmo edifício, só que a uns é dado, por ajuda alheia ou interesses de grupo, ocupar os capitéis, os vitrais e outros lugares de destaque. Um dos meus desalentos é simplesmente este conjunto de factos que passo a enumerar. Saiu em Novembro o meu conto As Botas de Van Gogh no Jornal de Letras do Rio de Janeiro, e vai sair pelo menos mais um, provavelmente. Quanto ao JL de Lisboa, talvez nem saiba que eu existo. O meu romance Ilha Grande Fechada fez parte de uma tese de doutoramento na Universidade Católica do Rio Grande do Sul, foi sozinho motivo de uma tese de mestrado na mesma Universidade (merecendo o livro um elogio do júri no acto da defesa da tese), tem algumas páginas incluídas no estudo da Literatura Portuguesa na Universidade de Belgrado, etc., mas no Continente, onde, aliás, se venderam muitos mais exemplares do que aqui, só é conhecido por essas boas almas que o terão lido. O Manuel Alegre, no seu discurso excelente do 500º aniversário da descoberta do Caminho Marítimo para a Índia só citou o Miguel Torga, o Camões e... a mim... ( Uma frase do livro "Bartolomeu", a respeito da qual escreveu talvez o mais belo parágrafo do discurso - "Eu vi a Índia sem a ver" - que eu pus na boca do Bartolomeu Dias. Ele abriu com ela um livro seu com um poema longo sobre o navegador. ) E poucos mais sabem que existo... Meu Caro, fico por aqui, para que não confunda o meu desabafo com uma exibição de orgulho. Um enorme abraço. Daniel Publicado por FRASSINO MACHADO em 13/01/2007 às 10h00
10/01/2007 19h10
MISSIVA A PROPÓSITO DOS "MAGOS DO OCIDENTE"
Caríssimo e estimado amigo,
Dr. Daniel de Sá, Senti hoje imenso prazer em receber pelo correio a «encomenda rica» que me enviou. Bem haja pela sua amizade e solicitude. Não sei como lhe hei-de pagar ... a não ser enviando-lhe os dois últimos e insignificantes poemas que fiz a semana passada a propósito dos Reis. Eles vão em anexo, como é habitual nestes casos. Se quiser, depois, pode enviar-me ( por e-mail, mesmo ) uma crítica o mais 'serrada' possível acerca destes textos. A sua alta competência garantir-me-á futuras e/ou eventuais incorrecções... Quanto ao quotidiano, por cá, raramente algo acontece que possa estimular os "artistas menores" - já que dos maiores libera nos Domine - que os bens disponíveis para a cultura são cada vez mais raros, que se há-de fazer ? O que ainda vai animando alguma gente culta desta insignificante Capital, são uma ou outra Tertúlia ( sem jantar, claro ) nomeadamente a nossa «Tertúlia Poética Ao Encontro de Bocage» que se vai esforçando por deitar algumas areias no charco... Todavia, no sábado transacto, cometemos a proeza de conseguir 'casa cheia', não por causa dos nossos méritos, como é óbvio, mas pelas tais 'pedrinhas no charco' que fazemos questão em continuar subrepticiamente praticando. Bem, continue e enviar notícias dessas bandas ocidentais, ok ? É que elas são sempre um lenitivo benfazejo para quem, como nós, milita dia a dia neste "deixa andar" bocejante. Receba um cordial abraço do seu poetAmigo sempre Frassino Machado Publicado por FRASSINO MACHADO em 10/01/2007 às 19h10
04/12/2006 16h02
O CONQUISTADOR APOSTÓLICO
No âmbito da Igreja Católica ocorreu, na semana transacta, um dos maiores feitos de que há memória. Foi seu protagonista nada mais nada menos que o Papa Bento XVI.
O sucesso da sua visita à Turquia foi, a todos os níveis, notável. Matou “dois coelhos” de uma só cajadada, como diz a sabedoria popular. De um só folgo atingiu plenamente os seus dois objectivos previstos para esta Visita Apostólica: debelar, diplomaticamente, o famigerado contencioso com o mundo islâmico que – desnecessariamente – havia sido criado inadvertidamente um mês antes, aquando da sua visita à Alemanha e concretizar uma aproximação dialogante e concreta com a Igreja Ortodoxa Oriental, principal desiderato apostólico projectado para o seu Pontificado. Podemos dizer que esta sua deslocação à Turquia foi um grande sucesso mais pelo facto de ela ter ocorrido num contexto de grande crispação e de grande frieza para com a sua própria pessoa. Em menos de três dias, anulando todos os temores à volta do evento, Bento XVI conseguiu impor a sua personalidade e prestígio perante o mundo não católico e, direi mesmo, perante todos os sectores descrentes da sua própria Igreja que, quer queiramos quer não, guardava no seu íntimo uma séria reserva para com o Pontífice. Não esqueçamos que ficara uma como que subreptícia decepção na sequência da sua eleição como Papa. Falara-se mesmo, nos bastidores do Conclave, na forma algo estranha como Ratzinger se “impôs” aos seus pares, valendo-se da sua alta experiência e prestígio no interior do Vaticano. Tratar-se-ia, portanto, de um verdadeiro “tráfico de influências” à boa maneira de meandros caciqueiros. A serem verdadeiros tais boatos, com esta enorme vitória diplomática e não só, o Papa eliminou dum só folgo essa suspeitosa vaga de fundo contra o seu real valor e competência. E se ele ja havia sido, durante o Pontificado de João Paulo II, o renitente “Cardeal Guardião da Fé” tornou-se com este inalienável sucesso o “Conquistador Apostólico” da Cidade Eterna. E que melhor carisma para o seu Líder Espiritual poderá uma Igreja ( como a Católica ) ambicionar ? prof. Assis Machado Publicado por FRASSINO MACHADO em 04/12/2006 às 16h02
19/10/2006 07h26
O MURO DA HUMILHAÇÃO !!!
ABAIXO O MURO !
Vários Países da América Latina,liderados pelo MÉXICO, bem protestaram, mas de pouco lhes serviu... George Bush, acabou por assinar o "Projecto" que prevê a criação de um muro de betão de 1.120 Kms entre o seu país e o México. Trata-se de tentar travar as ondas de imigração para o "país dos dólares" ( o sonhado El-Dorado ) ... O próprio Bush reconhece, ao resistir durante meses ao Senado americano, que se trata de um acto contraproducente ! Veja-se : até ele já consegue pensar direito. A China resolveu o problema milenar das ordas invasoras com as suas Grandes Muralhas ? A URSS e a RDA resolveram este problema com o seu "Muro da Vergonha" ? Resolverá Israel o seu contencioso com os Palestinianos, com o "Muro da Tristeza"? E os países da América Latina já lhe chamam O MURO DA HUMILHAÇÃO ! Ó TEMPUS, Ó MORES !!! Publicado por FRASSINO MACHADO em 19/10/2006 às 07h26
17/08/2006 16h25
LÍBANO - GUERRA OU FICÇÃO ?
Foi anunciado há dias, com pompa e circunstância, que a luta travada entre os Israelitas e os denominados guerrilheiros do Hezbollah - "os combatentes de Deus" - tinha chegado ao seu termo. Pelo menos no que diz respeito à questão do cessar fogo. Quando a luta, entre estas duas frentes atingia o seu máximo recrudescimento e ninguém vislumbrava no horizonte uma solução viável para o conflito – mesmo sabendo-se que todos os dias eram mais que muitas as propostas, oriundas das mais longínquas e obscuras proveniências ( entenda-se "conveniências" ) – eis que surge, finalmente, como que saída de uma varinha de condão, a solução mágica que parece contentar os mais acérrimos intervenientes.
O fogo tonitruante e arrasador das mortíferas armas calou-se, numa destas madrugadas, lá para a banda das terras do Líbano... Haja Deus, qualquer que Ele seja, que o mundo pelos vistos ainda não está perdido! Parece que as humanas e distintas mentes pensadoras ainda não estão em vias de extinção! Mas, como não podia deixar de ser, esta dramática luta fratricida gerou de imediato um palco exibicionista lamentável. Os dois lados da contenda - esquecendo-se das imagens reais de destruição, desolamento e morte que a cada minuto e hora que passa todo o mundo vai testemunhando, vieram por ostentação reivindicar a sua mais que evidente vitória neste conflito ! Ora, francamente, como é possível tanto cinismo e, direi mesmo, tanta deshumanidade! Quase toda a dimensão do território libanês, nomeadamente as zonas urbanas, encontram-se reduzidas a escombros. Serão incalculáveis os danos causados aos bens dos cidadãos. Uma terça parte da população deste país reduzida à extrema miséria e sujeita à fome, à penúria e à humilhação. Mais de dois mil mortos e de dez mil feridos em estado irreversível. Mais de cem mil deslocados procurando entre os escombros possíveis alguma nostálgica recordação... se é que isso será algum dia possível ! E vêm os maiorais das duas bandas litigiosas gritar ao mundo: ganhámos !!! É preciso coragem para tanta hipocrisia! Os dois lados da guerra "acordaram" um cessar fogo ! Mas, que guerra ? Que guerra, repito eu ? Não se tratará, antes, de um intervalo na exibição de um filme de ficção que, longe vá o agoiro, poderá seguir dentro de momentos ? Tudo dependerá, não tenhamos dúvidas, da maquia em dólares que for exibida. E realço a minha convicção de que esta contenda mais parece uma encenação para acerto de contas ou birras entre gente que, convenhamos, carece abundantemente do miolo primacial do género humano... Ó tempus, ó mores, diriam os velhos senadores romanos à vista de uma das maiores hecatombes de toda história mediterrânea – "delenda est Carthago" – vão-se para sempre os mais profundos valores da nossa tradição! E a novíssima terra da Fenícia – a da era da globalização – mesmo ali à vista. Frassino Machado 15 - 08 - 2006 Publicado por FRASSINO MACHADO em 17/08/2006 às 16h25
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