CANTO DE FRASSINO

Os meus horizontes são de Vida e de Esperança !

Meu Diário
03/01/2008 18h37
SONETO É SONETO ! E bibó Poôrto, carágo !

                                                 SONETO É SONETO

Amigo Sustelo,
saudações poéticas !

Hoje de manhã vi tua mensagem no meu E-Mail e fiquei contente pelo reconhecimento justo que fizeste da minha posição artística acerca do SONETO ! Bem hajas pela sensibilidade e sabedoria com que agraciaste a minha clara opção. Como sabes, estas convicções custam sempre caro a quem as professa ! Todavia eu não abdico dos ensinamentos fundamentais que adquiri junto de professores e mestres que, esses sim, "sabiam da poda" ! Os alicerces que recebi deles dão-me a crença de que, na verdade, as «obras de arte» como o SONETO (naquilo que as identifica) nunca passam de moda !
E por esse mundo fora, se lermos bem os grandes poetas contemporâneos, apesar de reconhecerem as virtualidades das "formas modernistas", cujo desiderato é apenas e só o de desbravarem novos caminhos de comunicação... jamais abandonam "nas horas nobres" as formas clássicas que, como sugeri atrás, são perenes e eternas ! Ora ... eu, ao afirmar com o ANTI-SONETO o que afirmei, apenas quero significar que se um dado Evento se comemora com Sonetos, então deverá ser mesmo com SONETOS e não com “fachadas de sonetos” . Se um Soneto deixa de ter as condicionantes técnicas que lhe dão o nome , então já não é Soneto ou, então o Soneto «deixa de ser Arte» . Uma miscelânea de formas, algumas bem bizarras, nunca poderão ser encaradas como Arte... e, não me digam que quem isto afirma está a ser orgulhoso e pedante, não. Eu, ao tomar a posição que tomei quis, de uma forma briosa, quiçá corajosa, defender a minha / nossa Dama ( Soneto ) ! Que "isto de ser poeta é uma constante caminhada para a perfeição" ( no dizer, por outras palavras, de Júlio Roberto ) que o mesmo será afirmar "a busca do Graal que todo o ser humano encarna" ! É que esta coisa de se dizer que "a arte é também liberdade..." ( eu até certo ponto concordo... ) mas nada de confusões: uma coisa é liberdade de pura comunicação como "expressão artística" e, aqui, haverá sempre lugar a critérios estéticos consagrados, outra coisa é a mera expressão literária factual de diferentes matizes circunstanciais, para transmitir alguns sentimentos justificáveis, mais ou menos interessantes/enquadrantes de realidades ou ficção, mas que dificilmente poderão aceder sequer à ombreira do Parnaso! Por outro lado, devemos de uma vez por todas deixarmo-nos de aventureirismos ( ou fúteis convenções ... ) e optar, decididamente, pela qualificação das formas de comunicação, que o mesmo é dizer "encetar os caminhos da Arte"!
E, para terminar, não se diga que "soneto é sempre soneto, seja 'perfeito' ou 'imperfeito'... pois todos são 'filhos de Deus' ! E esta, enh, pasme-se! Fecho eu, agora. O Soneto ou é Soneto ou não é SONETO ! Ademais acredito que, nesta hora, até Bocage da sua tumba eterna afirmou convictamente: « apoiado » ! Tenho dito.

*

PORTO x SPORTING


E bibó POÔRTO,
toca o alaúde !
O pobo absorto,
mais bibo que morto,
bebe à saúde...
Bait' imbóora, Liõen,
nun tornes ó Dragón
e se bieres
cá outra bez
p' ra aprenderes
lebas mais trez !


Frassino Machado
In “O Tripeiro” 

*


Publicado por FRASSINO MACHADO em 03/01/2008 às 18h37
 
30/12/2007 22h52
ESTÉTICA DO SONETO II

Origem histórica do Soneto em Portugal,
no âmbito de uma homenagem ao poeta

SÁ DE MIRANDA ( 1481 – 1558 )


Francisco Sá de Miranda, nascido na cidade do Mondego tudo aponta que no ano de 1481 – sete anos antes de Bartolomeu Dias dobrar o Cabo das Tormentas – cursou Humanidades na Universidade de Lisboa, a mesma que mais tarde seria mudada para Coimbra e cedo iniciou a sua vida cortesã, tornando-se um dos mais novos animadores das Tertúlias do Reino, fazendo companhia a Bernardim Ribeiro, a Garcia de Resende e ao grande Gil Vicente.
Foi a partir de 1521 – ano do término da 1ª Viagem de Circum-navegação e ainda no reinado de Dom Manuel I – que tudo mudou na sua vida quando, por sugestão do próprio Rei, beneficiou da situação de bolseiro, em Itália.
Após a sua chegada a Itália, influenciado pela «Revolução nas Artes da Renascença» , iniciou também ele uma profunda renovação literária tomando conhecimento com as novas formas poéticas então em voga. Imperava naquela época o dolce stil nuovo, dentro do qual sobressaía um novo “metro” para poetar e novas formas estéticas de poemática. Passa a conhecer os versos decassilábicos ( modelo italiano ), as oitavas, os tercetos perfeitos, as elegias, as canções, as éclogas, as cartas poéticas e, principalmente, o grande ex-libris dos principais poetas: o Soneto. Para ele todo este acervo literário eram inovações. A todas estas formas poéticas vai ele mais tarde, já em Portugal, denominar como “versos de medida nova”, isto é, formas poéticas diferenciadas das que constavam no já ultrapassado Cancioneiro Geral.
Durante cerca de seis anos conviveu por toda a Itália com poetas como: Bembo, Sannazzaro, Sadoleto, Ariosto e Vitória Colonna. De regresso a Portugal terá conhecido Garcilaso e Boscán com os quais ficou correspondendo-se com frequência. Já em Portugal divulgou então as suas grandes novidades, nomeadamente o Soneto, com destaque para os da autoria do famoso Francesco Petrarca a quem ele prestava os maiores louvores e, claro, os seus próprios.
Foi muito admirado por essa sua atitude, sendo seguido muito de perto principalmente por: Pedro de Andrade Caminha, Diogo Bernardes, Jorge de Montemor, Luis de Camões, claro, e António Ferreira. Foi dele que este último escreveu um dia:

“Novo mundo, bom Sá, nos foste abrindo
com tua vida e com teu doce canto”.

Ora este doce canto era nada mais nada menos que a nova moda dos SONETOS: 

1- O sol é grande, caem coa calma as aves, 

     Do tempo em tal sazão que sói ser fria: 

Esta água, que d'alto cai, acordar-me-ia, 

Do sono não, mas de cuidados graves. 


Ó coisas todas vãs, todas mudaves, 

Qual é o coração que em vós confia? 

Passando um dia vai, passa outro dia, 

Incertos todos mais que ao vento as naves! 


Eu vi já por aqui sombras e flores, 
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Vi águas, e vi fontes, vi verdura;

As aves vi cantar todas d'amores.


Mudo e seco é já tudo; e de mistura,

Também fazendo-me eu fui doutras cores;

E tudo o mais renova, isto é sem cura.


*

Aquela fé tão clara e verdadeira,
A vontade tão limpa e tão sem mágoa,
Tantas vezes provada em viva frágua
De fogo, vi apurada, e sempre inteira;

Aquela confiança, de maneira
Que encheu de fogo o peito, os olhos de água,
Por que eu ledo passei por tanta mágoa,
Culpa primeira minha e derradeira,

De que me aproveitou? Não de al por certo
Que dum só nome tão leve e tão vão,
Custoso ao rosto, tão custoso à vida.

Dei de mim que falar ao longe e ao perto;
E já assi se consola a alma perdida,
Se não achar piedade, ache perdão.


***


Publicado por FRASSINO MACHADO em 30/12/2007 às 22h52
 
30/12/2007 19h32
A ESTÉTICA DO SONETO I

Adaptado por:
Frassino Machado


Ao que tudo indica, o soneto - do italiano sonetto, pequena canção ou, literalmente, pequeno som - foi criado no começo do século XIII, na Sicília, onde era cantado na corte de Frederico II da mesma forma que as tradicionais baladas provençais. Alguns atribuem a Jacopo (Giacomo) Notaro, um poeta siciliano e imperial de Frederico, a invenção do soneto, que surgiu como uma espécie de canção ou de letra escrita para música, possuindo uma oitava e dois tercetos, com melodias diferentes. O número de linhas e a disposição das rimas permaneceu variável até que um poeta de Santa Firmina, Guittone D'Arezzo, tornou-se o primeiro a adotar e aderir definitivamente àquilo que seria reconhecido como a melhor forma de expressão de uma emoção isolada, pensamento ou idéia: o soneto. Durante o século XIII, Fra Guittone, como era conhecido, criou o soneto guitoniano, padronizado, cujo estilo foi empregado por Petrarca e Dante Aligheri, com pequenas variações. Tais sonetos são obras marcantes, se considerarmos as circunstâncias em que eles surgiram.
Coube ao fiorentino Francesco Petrarca aperfeiçoar a estrutura poética iniciada na Sicília, difundindo-a por toda a Europa em suas viagens. Sua obra engloba 317 sonetos contidos no "Il Canzoniere", a coletânea de poesia que exerceu inflência sobre toda a literatura ocidental. As melhores poesias desse livro são dedicadas a Laura de Novaes, por quem possuía um amor platônico. Destacam-se os recursos metafóricos e o lirismo erótico dos sonetos.
Dante Alighieri, o autor da consagrada "A Divina Comédia", e também um seguidor de Guittone, em sua infância já compunha sonetos amorosos. Seu amor impossível por Beatriz (provavelmente Beatrice Portinari) foi imortalizado em vários sonetos em "Vita Nuova", seu primeiro trabalho literário de grande importância.
Anos se passaram até que dois ícones da literatura mundial, um inglês e um português, deram ao soneto, cada um ao seu modo, o toque de mestre: William Shakespeare e Luis de Camões. Camões frequentou a nobreza em Portugal, mas foi exilado por suas posições políticas. Passou alguns anos na prisão, de onde saiu com "Os lusíadas", uma obra que o colocou entre os maiores poetas de todos os tempos. Apesar disso, morreu pobre. Escreveu diversos sonetos, tendo o amor como tema principal. Shakespeare, além de teatrólogo, desenvolveu uma habilidade única na poesia. O seu soneto, o soneto inglês, é composto por três quartetos e um dístico, diferente da composição original de Petrarca. O mais célebre dos escritores ingleses escreveu diversos poemas, alguns deles recheados de metáforas. Desde então, o soneto adquiriu importância ao redor do mundo, tornando-se a melhor representação da poesia lírica. Alguns casos são notáveis: o poeta russo Aleksandre Pushkin compôs Eugene Onegin, um poema repleto de sonetos adotado por Tchaikovsky para compor uma de suas óperas; o francês Charles Baudelaire ajudou a divulgar os versos alexandrinos em Les Fleurs du Mal. Até Vivaldi usou-se de sonetos.
E por falar em versos alexandrinos, utilizados por muitos sonetistas, eles remontam - segundo alguns dicionários da língua portuguesa - a uma obra francesa do século XII chamada Le Roman d'Alexandre, e significam versos de DOZE sílabas poéticas. Porém, os dicionários da língua espanhola - apesar de apontarem para a mesma origem - insistem em afirmar que os versos alexandrinos são aqueles que contêm CATORZE sílabas gramaticais. Dê uma olhada nos versos que influenciaram decisivamente a poesia na Alta Idade Média e que eternizaram o nome de seu autor e de sua obra, e decida qual a melhor definição... Finalmente, após aderir ao humanismo e ao estilo barroco, o poema dos catorze versos acabou sendo desprezado pelos iluministas. No século XIX, ele voltou a ser cultivado, com mais fervor, por românticos, parnasianos e simbolistas, sobrevivendo ao verso livre do modernismo - que viria em seguida - até os dias atuais.
Apesar das variações no posicionamento das rimas e das estrofes, o soneto tem conservado praticamente a mesma forma através dos séculos. Seu conteúdo, no entanto, apresenta uma grande diversidade: o soneto é na maioria das vezes sentimental (é um atestado que exprime o estado do coração de um indivíduo), mas ele pode também ser satírico, político, moral, religioso, realista, burlesco. Dois grandes momentos do soneto: o Renascimento, com os poetas da Plêiade, e o século XIX, de Baudelaire a Mallarmé, depois de aproximadamente dois séculos de relativo eclipse.
Origens. Soneto vem do italiano sonneto (diminutivo de som) que quer dizer pequeno som: no princípio, o soneto era cantado ou recitado com um acompanhamento musical. Em sua origem, ele nem sempre teve apenas um conteúdo: amor alegórico e místico. Ele nasceu de uma série de experimentos feitos por poetas italianos sob a influência de vários gêneros literários: a canção dos trovadores, o "casida" e o gazel dos poetas do Oriente Médio, a poesia escandinava dos Vikings, o hino dos monges, o tenzoni dos italianos etc.
Posteridade. O soneto continua a ser usado no século XX por poetas como Louis Aragon e Philippe Jacottet. Em 1992, uma importante coletânea de sonetos foi publicada na França: trata-se da obra Liturgia de Robert Marteau. O fato de se escrever sonetos no fim do século XX é significante. Isso marca uma posição contra os princípios da poesia moderna: ruptura com o passado, ausência de unidade e continuidade etc.

Luis de Góngora

Os sonetos podem ser classificados de diversas maneiras - de acordo com o tema, o número de sílabas poéticas, o posicionamento das rimas etc. Na obra da figura acima, Góngora encontrou mais de seis modos diferentes de classificar os seus versos. Ao clicar sobre o índice da figura, é possível acessar um soneto de cada tema. Veja se você consegue perceber a diferença entre eles.
Classificação de Gôngora :
Soneto Sacro / Soneto Heróico / Soneto Moral / Soneto Fúnebre / Soneto Amoroso / Soneto Satírico / Vários ...

                                          COMO ESCREVER UM SONETO

Introdução


É quase um desaforo tentar ensinar regras a alguém que pretende escrever uma poesia, onde cada verso produzido resulta de uma inspiração que, além de individual, é uma manifestação do pensamento livre. Em outras palavras, não dá para dizer a um poeta "seja metódico em seus versos". Deve partir do próprio poeta a iniciativa de seguir ou não as regras que existem nos sonetos.
A maioria dos poetas citados nessas páginas não se limitou a elaborar sonetos. Alguns deles, eu creio, foram atraídos pela história e pela sonoridade dessa composição. Um soneto é uma obra curta criada para transmitir uma mensagem em seus catorze versos, divididos em dois quartetos (grupos de quatro versos) e dois tercetos (três versos), ou três quartetos e um dístico (dois versos).

Métrica

Em primeiro lugar, os versos devem possuir a mesma métrica, ou seja, o mesmo número de sílabas poéticas. Uma sílaba poética é bem diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais palavras em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo:
"Busque amor, novas artes, novo engenho..." (Luis de Camões)
Tente ler esse verso devagar, como se fosse uma só palavra, e vá contando quantas pausas existem até a última sílaba tônica.
1 | 2 | 3 |4 | 5 |6 | 7 |8 | 9 |10|
Bus que a mor, no vas ar tes, no vo en ge nho
Você encontrou as dez sílabas poéticas, certo? Repare que a expressão "busque amor", aos invés das quatro sílabas comuns (bus-que-a-mor), tem na poesia apenas três sílabas. Costuma-se ensinar as sílabas poéticas como sendo a forma em que são "ouvidos" os versos, por isso a sonoridade é importante em um soneto.

Camões escreveu seus sonetos (e Os Lusíadas também) usando sempre dez sílabas poéticas. Outro exemplo pertence a Vinícius de Moraes:
"De tudo, ao meu amor serei atento..."
Poeticamente, o verso acima é dividido assim:
1 |2 | 3 | 4 |5| 6 |7 | 8 |9|10 |
De tu do ao meu a mor se rei a ten to
Versos com dez sílabas poéticas são chamados decassílabos. Outra forma famosa de escrever são os versos alexandrinos ou dodecassílabos (doze sílabas), conforme exemplo:
"Sinto que há na minha alma um vácuo imenso e fundo..." (Machado de Assis)
Tente perceber as doze sílabas. Se não conseguir, veja abaixo como o verso é dividido.
1 |2 | 3 |4 |5 | 6 | 7 |8 | 9 |10 | 11 |12 |
Sin to que há na mi nha al ma um vá cuo i men so e fun do
Curiosamente, Olavo Bilac, um dos maiores poetas brasileiros, tinha em seu próprio nome um verso alexandrino: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Dizem que ele já nasceu predestinado à poesia. 

Posicionamento de rimas

Além do número de sílabas, outra característica importante de um soneto é a ordem em que os versos rimam, ou posicionamento de rimas. Para os quartetos, existem três formas principais de posicionamento:
Rimas entrelaçadas ou opostas - abba (o primeiro verso rima com o quarto, o segundo rima com o terceiro):

"Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável..." (Augusto dos Anjos)

"Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado..." (Gregório de Matos)

Rimas alternadas - abab (o primeiro verso rima com o terceiro, o segundo rima com o quarto):

"Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha..." (Olavo Bilac)

"Quando em teus braços, meu amor, te beijo,
se me torno, de súbito, tristonho,
é porque às vezes, com temor, prevejo
que esta alegria pode ser um sonho..." (Martins Fontes)

Rimas emparelhadas - aabb (o primeiro verso rima com o segundo, o terceiro rima com o quarto):

"No rio caudaloso que a solidão retalha,
na funda correnteza na límpida toalha,
deslizam mansamente as garças alvejantes;
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes..." (Fagundes Varela)

"Nada vai separar; existem laços.
Nem vai desenlaçar, nem nos espaços
Entre os passos que, juntos, damos sós,
Nem antes dos abraços, nem após..." (Bernardo Trancoso)

Os tercetos, por sua vez, são mais flexíveis com relação ao posicionamento das rimas. Fernando Pessoa, por exemplo, usou a estrutura cdc ede nos tercetos a seguir:

"Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?..."

William Shakspeare, por sua vez, escrevia, ao invés de dois tercetos, um quarteto e um dístico (cdcd ee).

"But thy eternal Summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow'st,
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st,

So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee..."

Outros exemplos de posicionamento de rimas nos tercetos são cde cde, um dos mais famosos, cde edc e também cce dde. Ao passear pelos sonetos dessas páginas, tente notar que estilo o autor empregou em seus versos. Escolha o que achar melhor para o seu soneto.

Até aqui falei de métricas e de rimas, encontradas na quase totalidade dos sonetos clássicos. Há sonetistas modernos, entretanto, que aboliram esses conceitos, usando versos brancos (sem rima) em suas composições. Martins Fontes escreveu o Soneto Monossílabo, onde cada verso tem uma sílaba apenas.

"Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa:
à toa uma canção envolve os ramos
como a estátua indecisa se reflete..." (Carlos Drummond de Andrade)

Sonoridade

O último componente importante de um soneto é a sonoridade, isto é, onde estão as sílabas tônicas (ou fortes) de cada verso. Quando combinadas, essas sílabas fazem com que o soneto se pareça com uma suave canção. Quanto à sonoridade, os versos decassílabos classificam-se em dois tipos: heróicos e sáficos.

"Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento..." (Bocage)

Esses são versos decassílabos heróicos, porque as sílabas poéticas tônicas são a sexta e a décima, indicadas em negrito. Todos os 8816 versos de "Os lusíadas" são decassílabos heróicos. Um verso decassílabo sáfico, por sua vez, reforça a quarta, a oitava e a décima sílaba poética:

"Vozes veladas, veludosas vozes..." (Cruz e Souza)

Finalmente, os versos alexandrinos possuem a quarta, a oitava e a décima-segunda sílaba poética como sílabas fortes, ou a sexta, a décima e a décima-segunda.


VERSOS E RIMAS

Verso metrificado - Obedece a um esquema métrico e compassado (veja como escrever um soneto). Sua origem remonta às primeiras poesias. Um ritmo ou "batida" constante em cada verso de um poema caracteriza o uso do verso metrificado. O contrário é o verso livre, que não possui um esquema métrico regular, estando mais associado ao modernismo.

Versos brancos - Versos sem rima entre si.
¨¨¨
Rima rica - São chamadas ricas as rimas que se fazem com palavras de classe gramatical diferente ou de terminação pouco freqüente. "Vê-la" produz com "estrela" uma rima rica.
¨¨¨
Rima pobre - O uso acentuado de palavras da mesma classe gramatical ou com a mesma terminação numa composição torna a rima pobre.

Conclusão

O que mais torna um soneto possível? A inspiração, o tema, o conhecimento das palavras e das rimas, que serão mais ricas quanto mais rico for o vocabulário do sonetista. Por isso, a leitura de outros sonetos, poesias e livros é importante.


Publicado por FRASSINO MACHADO em 30/12/2007 às 19h32
 
30/12/2007 18h45
A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

 


“A cultura de Pilatos”

 


Assis Machado


 


            Conta um cronista que um dia, por mera hipocrisia e presunção, os fariseus foram ao encontro de Jesus de Nazaré para lhe colocar uma questão que definiria, sem margens para dúvida, qual o tipo de mentalidade por Ele incarnada. Era intenção dos fariseus colocar o Nazareno numa situação ambígua e tendente a retirar dela as ilações que lhes conviessem sob o ponto de vista político-social.


            A questão era esta:


“ Rabi, temos connosco uma moeda que anda por aí em circulação, pelo que não sabemos o que fazer com ela. Que te parece?”


            Jesus – que sabia perfeitamente o que é que eles pretendiam com esta ratoeira – retorquiu-lhes : “mostrai-me uma das moedas”. E em seguida, perguntou-lhes: “de quem é esta efígie ?”. “É  de César, o Senhor de Roma!”. O Nazareno, fixando-os olhos nos olhos, respondeu-lhes com toda a frontalidade: “Ai, é de César? Então, tendes a solução: dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” S. Lc. 20, 25


            Vem este exórdio  a talhe de foice do “fenómeno socio-religioso” que está na crista da onda em Portugal, a propósito da já apelidada “guerra do crucifixo” em algumas terras mais conservadoras do país.


Por um lado, o Estado – em nome do republicanismo laicista, derivado das leis constitucionais – tende diluir subrepticiamente  a polémica dizendo que as directivas governamentais ( uma delas, a que recomenda a retirada dos símbolos religiosos residuais nas escolas públicas ) apenas se justificam perante a existência de queixas impeditivas de um ensino e/ou educação neutrais, por outro lado, e aqui é que nós chamamos a atenção para a ambiguidade inter-Institucional desta nossa Sociedade: a CEP ( Conferência Episcopal Portuguesa ) resolveu «minimizar a importância da retirada dos crucifixos das escolas públicas», considerando-os mais como “sinais culturais do que símbolos religiosos”.


Ao mesmo tempo reconheceu a presença de símbolos de outras religiões nas escolas, “no quadro de um Estado-Laico que deve permanecer neutro perante as crenças”. E concluiu : “A Igreja não pode exigir que os crucifixos se mantenham nas escolas. Achamos ser antes uma questão de bom senso e respeito pela tradição cultural portuguesa”!


Ora, aqui é que reside a incongruente posição da Cimeira Eclesiástica. Considerámo-la um genuíno modelo de «cultura de Pilatos». A Organização máxima desta autoridade religiosa em Portugal, tal como Pilatos, lavou as suas mãos da responsabilidade de arbitrar este litígio de mentalidades ( mais que Cultura Nacional ) o que demonstra o seu desinteresse nesta causa – o que poderia servir de mil e uma maneiras para reforçar as suas teses, ainda recentes, da “nova evangelização” ou, o que será ainda mais grave, o seu interesse em não querer fazer valer, perante o Estado, as suas razões de ordem ancestral para justificar com conta, peso e medida, os seus direitos de preferência doutrinal ou, a manutenção de privilégios adquiridos no País, ao longo da sua História. Remeteu essa polémica para as frágeis populações minoritárias relativamente pouco civilizadas, chamando a essas manifestações de “sinais culturais”.


Por outro lado, abdicou de lutar pelo direito à manutenção dos símbolos nacionais fundamentais – entre eles o do crucifixo – que se encontra, ele mesmo incrustado no destino histórico da Nação. Trata-se não só do símbolo identificador de uma acção patriótica que, desde Ourique até às Índias, sempre tem servido de indicador de um destino comum : Portugal nasceu da simbologia da Cruz ( o 1º Rei, assinava à volta de uma Cruz ), cresceu na epopeia da Cruzada universal, a bordo das caravelas e consolidou-se à força da Espada num Império. E não falando aqui, para não extrapolar o polo discursivo, de alguns aspectos simbólicos adstritos à  bandeira nacional.


Portanto, vir dizer-se que se está apenas perante “sinais culturais” e que são “manifestações residuais” de minorias é, convenhamos, pactuar com os interesses do Estado ( para não dizer Ideologia ) praticando, isso sim, uma verdadeira “cultura de Pilatos”… ou, como diz o povo duma forma metafórica, “metendo a cabeça na areia”.


Para concluir, quero apenas sublinhar que a CEP não quis assumir a responsabilidade que lhe competia para, servida por uma certa diplomacia farisaica, tentar empurrar para terceiros soluções endémicas do seu foro proselitista.


E não se venha afirmar, hipocritamente, que “não foi a Igreja que pediu que os crucifixos estivessem nas escolas. Foi em determinado momento da sociedade portuguesa que lá foram postos” !  Ora, quem é que já esqueceu a trilogia ideológica instalada na aurora do Estado Salazarista – Deus, Pátria e Família? A partir da Constituição de 33, por acção do espírito da Concordata com o Estado do Vaticano – sancionada  e assinada em 1940 pelo Pontífice Pio XII –  passaram a cohabitar  dentro das salas de aula de todas as escolas do país – como que justificando a moderna moral do Estado Novo – o retrato do primeiro magistrado da Nação ( Carmona ), o retrato do primeiro cidadão português ( Salazar ) e, no meio ( quem ? ) : o Crucifixo.


Se esta constatação foi obra do Espírito Santo ou, em alternativa, “mão de Cerejeira”, então estamos para já conversados.


 


Publicado por FRASSINO MACHADO em 30/12/2007 às 18h45
 
26/12/2007 10h45
ASSIM FALOU ANA GODOY

                                                    ASSIM FALOU ANA GODOY

Olá, caríssima amiga,
e ilustríssima colega de profissão,

Estou-lhe imensamente grato pelo contributo por si prestado à «depuração literária», e não só, que eu próprio me impus ! E por ser uma tarefa de alto desgaste intelectual, não só cognitivo como estético, é que eu ( como V. disse, e bem, com humildade cultural ... que nos dias de hoje sabemos que escasseia ! ) recorri às minhas amizades mais chegadas ( cerca de três dezenas... dos mais diversos quadrantes de Instrução, incluindo Académica ! ) e solicitei o favor das suas apreciações.
Desde já lhe digo que as minhas expectativas não serão em vão. Em dois dias já recebi uma terça parte das apreciações (11). A sua foi das primeiras que recebi - por gentileza da Neida, minha amiga de há muito - a qual, à primeira vista, necessariamente aligeirada, me agradou sumamente. Toda ela, sem menosprezar as demais, tem os "requisitos essenciais" para que eu dali retire uma maior consistência acerca dos conceitos que esgrimi ao longo do meu texto que, pode crer, não foi feito com intuito académico. Antes, e apenas, como forma de opinião pessoal, tendo na sua articulação uma estrutura orientada para debate, como consta do enunciado em epígrafe, àcerca do estado actual da Expressão Poética.
Só receio que as suas apreciações, tendo em conta o seu evoluir - reforçado por um colorido didáctico sem precedentes - tenham sido feitas "muito pela rama" e, elaboradas tão rapidamente no seu articulado, que só me vem à ideia aquela fábula magistral de "a raposa e as uvas"... ou então, como dizia um sábio ( não tenha medo que já lhe digo o nome ! ) lusitano da Clássica de Lisboa ( que foi meu professor "catedrático eventual", por pena minha, porque se tivesse sido "ordinário" eu não erraria tanto na gestão literária que ousei formular ) chamando a atenção aos alunos apressados ( "se bêm me lêmbro!" ) quando escreviam ou diziam patacoadas sem rei nem roque, isto é, com rapidez : "ó menîno modêre a língua, senão fîca sem êla" !... Não sei se adivinhou que estou falando de Vitorino Nemésio... Mas, para concluir, nunca me esqueço de que esse mesmo sábio nos dizia e repetia ( "se bêm me lêmbro!" ): "menînos, para êvitar as patacoâdas, quê não tivêram têmpo de crescêr e amâdurecêr, há quê contêmplar não só o têxto, como e essêncialmênte o con - têxto ! "... A propósito, também acerca do nosso caso, poderia citar à medida ( já que é "exigente" neste campo! ) o grande Jorge de Sena, em "Os Grão-Capitães" que a dado passo chama a atenção de uma forma magistral para a tentação do Narcisismo Académico que reina nesta Casa. Ele referia-se não a Portugal ou à Clássica de Lisboa mas, antes, á LUSOFONIA , de que ele foi um dos grandes baluartes nos anos sessenta e setenta, como sabe...
Mas, para não a maçar mais com os meus arrazoados ( longe de mim pretender criar um caso à maneira dos contenciosos arcádicos entre Bocage e Agostinho de Macedo... vão de retro as BESTAS ESFOLADAS e a PENA DE TALIÃO ) prometo-lhe que prepararei uma intervenção "de melhor qualidade" depois de ler «com mais tempo» as suas próprias considerações.
Sabe que - não é o seu caso, como é óbvio - as colaborações que reputo de melhor qualidade são as últimas que costumo receber... e quase sempre de quem tem boa solidez académica e «experiência» q. b. !

Creia-me seu admirador e, esperando com ansiedade a volta do Correio, sou o poetAmigo sempre

Frassino Machado

N. B.  Espero que visite, com frequência, todas as minhas Páginas Poéticas nomeadamente :

                                                         
JARDIM DE ORFEU

                                                          CANTO DE FRASSINO
                                                           
                                                          
MIRADALTO

                                                         JANGADA AZUL


Publicado por FRASSINO MACHADO em 26/12/2007 às 10h45



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