"Dezembro 2023"

Meu Menino Jesus de Gaza
Desviaram-te de Belém
E agora já não tens casa
E estás na rua de Ninguém.

A Mãe Maria e o pai José
Não te souberam segurar
Dentro da choupana que é
A Santa Gruta de t´abrigar.

Sentiste-te ser arrastado
Para fora da terra-natal
E estás agora transformado
Em moeda de troca fatal.

Ele há nuvens negras em Gaza,
Reina o ódio em toda a parte,
Guerra selvagem que arrasa
Em triste ganância de enfarte.

Estás numa terra de feras
Entre os escombros e as balas
És refém de todas as guerras
E habitas no silêncio e calas.

Olhas à volta e só vês tiranos,
Gritos de horror, sangue a correr,
Não há água, nem pão, mas danos
E muitos meninos a morrer…

Não há aldeias nem cidades,
Há falta de luz e há terror,
Entre os sorrisos e as maldades
Há corpos e almas e há dores.

Os homens, se é que os há,
Vestem-se de ódio e de máscaras
É longa a noite, curta a manhã,
Segredos e medos e taras.

Estás em Gaza, ó meu Menino,
Em vez dos Anjos tens aviões,
Tens balas e drones sem destino,
Tens desespero, tens tubarões.

Menino sem eira nem beira
Não tens porta para bater
Não há braços, nem há maneira
D´ haver alguém pra te receber.

Da família já tens saudades
Mas quem manda é a voz do fogo
Que não tolera as verdades;
Foge Menino, foge, te rogo.

Salvaste-te de Herodes, fugindo
E foste prás bandas do Egipto
O melhor é tu ires saindo
Desse emaranhado inaudito.

Recorre, para já, à cotovia
Que a Santa Mãe recomendou,
Não arrisques uma agonia
Que a tua memória deixou…

Mas esta Gaza é todo o mundo,
Um seco deserto, tanto faz;
E a violência é um poço sem fundo
Que não tem sossego nem Paz!

Frassino Machado
In CORAÇÕES ANSIOSOS