“Dedicado a Silas Correa Leite”

Poesia não se explica, ela se sente e se pensa…
Se é ou não “revolução”, eis a inefável questão
Que no tempo e no espaço, em aventura imensa
Vai arrastando o homem nas asas da emoção.

Imbróglio destacado – horas vivas, horas mortas –
É como um rio caudaloso, em curso eterno,
E nunca pára nas margens mansas ou revoltas:
Poesia é o casamento do céu com o inferno!  

E se ela ganha foros de ínvia arquitetura
O que se há-de dizer das suas formas geniais?
Se é mistério inteligente é-o de conjuntura,
Mas nunca de feições nem linhas estruturais.  

Sua alma é, desta feita, a esbelta liberdade
Naquele natural espanto que paira e abrasa,
Qual peregrina, entre a aldeia e a cidade,
E, mesmo quando longe, ela retorna à casa.

Vai ondulando, como antena de cada época
Guiando, aqui e além, por entre sentimentos
E capta, pela água das paixões, a aura ingénua
Condutora final dos próprios encantamentos.

A Poesia é palavra, ora dita, ora escrita,
Que de lés-a-lés tem a moradia humana;
Por não ter máscara às vezes torna-se interdita,
O que faz, desta vida, ser estranha ou tirana.

Ele há poetas e há Poesia, com certeza,  
Fora a parte tudo aquilo que for fingimento;
Mas, tendo em conta a pura verdade e justeza,
P´ lo testemunho aquele perde o assentamento.  

A Poesia não é mistério nem é fantasia,
Porque ela tudo é, mesmo com parcas vestes,
Deixemos, pois, que ela brilhe pela harmonia
E que fique para os mestres o que é dos Mestres!

Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA