“Meu Círio breve”

Neste Círio breve que inicio
Quero, ó Senhora, proclamar
Toda a minha fé e o meu brio
D´ à Tua protecção m´ entregar.

Todo o mundo paira em desconcerto
E a miséria voga em mar bravio
Eu quero de Ti estar bem perto
Neste Círio breve que inicio.

Os homens, entre si, não s´ entendem
E nem sequer ousam dialogar
Para que, na paz, todos se emendem
Quero, ó Senhora, proclamar.

E, como tudo vai de mal a pior
E as maleitas há-as em corrupio,
Eu quero entregar-Te com fervor
Toda a minha fé e o meu brio.

Cumpro hoje meu Círio breve
Para que o possas abençoar
Faço para Ti esta minha prece
D´ à Tua protecção m´ entregar.

Tens ao Teu colo o Menino Deus,
Que T´ acarinha com todo o encanto,
Esquece, Senhora, os erros meus
E protege-me sob o Teu manto.

Venho, de longe, a este Cabo do fim,
Entregar-Te meu cabo de trabalhos,
Protege o mundo, protege-me a mim,
Tu, ó Senhora dos Mil Agasalhos!

Deste Círio breve sou peregrino
E hei-de um dia, quem sabe, voltar
Para contigo, cantar o meu hino
Neste Santuário de encantar…

Mas, escuta Senhora, há um defeito
Que – eu espero! – Tu possas travar:
Alguém intenta tirar proveito
De com o Teu Santuário lucrar!

Não, não pode ser, é o Belzebu
Que já esfrega as mãos de contente…
Não. Se quem aqui ordena és Tu,  
Põe a rédea curta nessa gente!

As minhas Trovas são só Poesia
Como são, na natureza, os lírios;
Neste horizonte de desarmonia
Mais valerá acabar co´ os Círios…

Nossa Senhora do Cabo, d´ Espichel
E de todos os “cabos” de Portugal,
Retira os males, a mesquinhez e o fel
Desta vergonha, que é um lamaçal!


Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA