«Para Eduardo Lourenço»

ACEITAÇÃO
“Fez-se manhã e noite
O meu amor por ti
Que o teu nunca amanheceu.
Melhor assim.
Se amanhecera
Morrera.
Que tudo morre em mim
Entre o sim e o não
Da minha contradição.”
Eduardo Lourenço

Ficaste, ó poeta, pela ingénua «Aceitação»
Da singeleza natural dos teus limites
E não tentaste, porventura, a superação
Dos teus mais que justificáveis apetites…

Toda a poética tem em si mil e um convites,
Sejam eles na linha da pura inspiração
Ou mesmo na linha d´ algo em que acredites
Tal como esse amor que se fez contradição.

É certo que ser poeta não é só ter engenho,
Nem basta ter talentos e, quem o sabe, ter arte;
Implica investir na paixão e desempenho
Como um intrépido soldado no seu combate.

Não chegam as palavras, ao largo e ao jeito,
Ajustando-as, com regra no verso ou no poema;
Importa, isso sim, sentir bem dentro do peito
Aquela força de alma que remova o dilema.

Toda a poética, para verdadeiramente o ser,
Tem no seu gene esta sublime condição:
Um estado de Alma, cada dia a renascer,
Que, p´ la «superação», transponha a criação!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA