ODE AOS INCRÉDULOS
“Para Lucy Bream e outros poetas”
Não há mister em recorrer à pedra filosofal Para que o pulso seja aferido a quem é incrédulo Naquilo que toca à Arte – e à Poesia ainda mais… Porque ela é o fiel sensível de tudo o qu´ é humano. O “ser artista” ou “ser poeta” nada têm de anormal, Quando a alma não dorme e quando não é frágil, Num suporte real e anímico, tão rico em cristais, Que tornam clara e límpida a água do seu cantil… De facto, ser artista ou ser poeta, é ser humano – E nem sequer precisa, ademais, de ser hercúleo Que o tempo dos heróis, bem ou mal, já transitou – Basta tão só, e apenas, ter os sentidos up to date Para que se revele a Vida em todo o seu deleite… Mesmo sabendo que hora-a-hora, ano-a-ano Tudo o que vemos hoje é o que ontem se mudou E, goste-se ou não, nada do que vemos é enfeite. E, se assim é – para quem é sensível e justo – Que ousadia temos nós de, contra o que é lógico, Querer pôr em quarentena toda a Arte e Poesia… Bem vista toda a questão, até parece demagógico E, ou não fora de somenos, poria a alma em susto E, mais que tudo, na incredulidade da fantasia… Não e não… não e não! Ou já mataram a Arte… - “Oh, nem sequer me falem”. Vá a Poesia àquela parte! A Arte e a Poesia, bem assim a Música e a Dança, Não vêm de fora, não. Elas têm a sua fonte cá dentro E, num fluir sagrado a fidelíssima Inspiração Jorra do fundo da alma a todo e qualquer momento… Basta acender a chama da vontade e da esperança No ondular imparável de cada emoção… Elas não vêm de fora, não. O artista e o poeta, Seres humanos, enfim, moram LÁ de forma completa. O artista e o poeta – se é que o são verdadeiramente – Não baloiçam à deriva, como em mar de sargaços, Mas navegam em sua Nau, a direito ou à bolina, Com os seus olhos num horizonte sempre em frente E, mesmo em terra firme, vão co´ as mãos ao leme Na crença de que estão certos todos os seus passos… Pois que o sol brilha sempre de forma cristalina E a luz que ele contém não é humana mas divina! O “vazio de infinito, a escuridão e o silêncio”, Que os incrédulos notificam na circunstância Considerando-se, a eles mesmos, poetas ou artistas Não são mais do que estados d´ alma à distância E, isso sim, é que é um poço sem fundo imenso… Em que as trevas do mal dominam todas as pistas Que nunca deixam ver claro a vontade decidida De reconhecer o «Verdadeiro Sentido da Vida»! É uma quimera pensar que não há espinhos – E há-os tão gravosos que causam amargura – Mas… se vamos pensar que em tudo há tortura Reivindiquemos, então, como procedeu Tomé Que à falta de argumentos e de rodriguinhos, Não se coibiu de meter a mão, e quiçá o pé… Para concluirmos, com maior ou menor ardor: Mãe-Arte, Mãe-Poesia! Sois minha sorte e meu amor! Poetas e artistas, não sejais fracos nem descrentes Só porque as vossas condições não são ideais, A nossa Mãe-Natureza, da qual somos filhos leais Tem dentro do seu seio as mais delicadas sementes Para que as obras nasçam, cresçam e floresçam E oxalá que os vossos puros estros o mereçam. Vós, deste mundo incrédulo, sois a verdadeira luz Aquela que a toda a hora bruxuleia e o seduz! Frassino Machado In ODISSEIA DA ALMA
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 21/04/2020
Alterado em 21/04/2020 |