AS PALAVRAS E AS PEDRAS
“Aos poetas ansiosos”
As palavras pedras não são, Ainda que tal o pareçam, Importa reactivar a mão Dos poetas que o mereçam. Se as palavras fossem pedras Não faltariam moradias As pedras não conhecem regras Pois vestem-se de fantasias. Os poetas andam de mão morta – Pedras e palavras não rimam – E nenhuma musa os exorta Quando na poesia não atinam… Se umas e outras rimassem Os poetas encontrar-se-iam; As mãos não laboram nem tecem Doutra forma eles afinariam. Há pedreiras abandonadas Que prometem laboração, E há palavras desencontradas Por falta de inspiração. Eu, como poeta, me confesso Mas ando por vezes perdido, Em pedras e palavras tropeço Por serem mistério escondido. Dizem que há pedras no sapato E que há palavras inibidas, Quando o poeta delas está farto É porque não lhes cura as feridas. Há muitas pedras nos caminhos Que os poetas não vislumbram E há palavras cheias de espinhos Esperando que as descubram. Em caminhos de luz e breu, Há pedras, palavras selvagens, Quem é poeta já isto viveu Numa alma por entre margens. Os poetas são seres especiais, As palavras são o seu domínio; As pedras, não as querem mais Sem harmonia e sem fascínio. Está aqui a paixão do poeta Que nenhuma pedra bloqueia Com palavras de linha certa Toda a poesia se incendeia. Cada poeta anda a reboque Da sua própria inspiração Qualquer palavra é pedra de toque Para um poema de libertação. – Poeta que t´alimentas de ânsia Co´ a tua alma em convulsão Pedras, palavras, são a distância Que vai de ti à tua emoção. – Mas procura um são equilíbrio Num fiel que te dê prazer Evita os telhados de vidro Se honesto poeta queres ser. – Põe de lado tua ansiedade, Não queiras versejar em vão, Ama teu mister com seriedade E encontrarás a direcção! Frassino Machado In JANELAS DA ALMA
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 05/07/2019
Alterado em 06/07/2019 |