“A lenda do pintassilgo”

Conta-se numa ancestral lenda
Que num certo dia, cheia de fé,
Veio, pela hora da merenda,
Trazer à família de Nazaré,
Prima Isabel, delicada oferenda.

No seu braço trazia um gigo
E nele uma ave colorida,
A que chamava pintassilgo,
Que, ao se sentir reconhecida,
Logo fez chilreio divertido.

O menino, que estava doente
Soltou um sorriso radiante
E sua mãe, de coração quente,
Demonstrou, daí pra diante,
Ter paixão por tal presente.

A avezinha cantou, cantou,
Naquela casa abriu-se a luz,
E até o sol de novo voltou
Exultando o menino Jesus
E toda a família se alegrou.

Isabel saudou prima Maria
José agradeceu a Isabel,
O Menino sorriu em harmonia,
E Maria com um bolo de mel
Deu mais doçura à companhia.

E aquela ave abençoada
Pousou na mão da criança
E esta, com sua tez rosada,
Ganhou salutar confiança
Ficando pra sempre curada.

Todos agradeceram na hora
Aquele milagre ocorrido:
Isabel, José, Nossa Senhora
Fizeram a Deus um pedido:
Qu´ a ave jamais fosse embora.

E não mais deixou a família
Aquela avezinha miraculosa.
Sempre com eles fez vigília
E, mais tarde, da cruz dolorosa
Viajou, com eles, pra Panfília.  

João passou a ser o cuidador
Daquele agregado, e num gesto
Com todo o carinho e amor,
Chamou ao pintassilgo Modesto
Pelo cantar singelo e sedutor.

Pintassilgo, qual flor do cardo
Que habita as orlas da floresta,
Tornou-se, doravante, abençoado
Mudando toda a dor em festa
E todo o ódio em amor-amado!  

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA