Entre o pirata e o corsário
Não há diferença nenhuma,
Tão mesquinha que nem se olha:
Vistos de frente ou ao contrário
Que venha o diabo e escolha
Pois toda a verdade é só uma.

Entre o corsário e o pirata
A diferença está na actuação
E na atitude insuspeita:
O primeiro, até usa gravata
O segundo, não se aproveita
Porque, ele todo, é rejeição.

Ao pirata, vamos matá-lo,
Ao corsário, deixá-lo andar
Já que não faz mal a ninguém:
Não dá tiro, não dá abalo,
E porque é pessoa de bem
Usa de luva p' ra desviar.

Faz um desvio, não faz roubo,
E, à sombra d´ engenho e arte,
Vive sempre da vida alheia:
Tudo o que vale sabe-lhe a pouco
Opera na cidade e na aldeia
E manda o povo àquela parte.

Antes, andarilhavam na rua
A inventariar a sua grei,
Hoje têm tacho assegurado:
Ao trabalho nenhum s´ habitua
E borrifam-se para o Estado
Julgando-se acima da lei.

Pirata & corsário Ltda.  
Qualquer deles um mal menor,
Mesmo com colarinho-branco:
Sua tarefa é na madrugada
No lusco-fusco de um banco
Com a bênção do Criador…

Corsário & pirata, C. ia  
Já se honram de longa data
Plantados em boa raiz:
Nunca lhes falta a serventia
Qualquer que seja o país
Usam sempre de grande lata.

O pirata é filho do povo
E o corsário é filho da mãe
Toda a boa gente deles fala:
Mas se, porém, houver estorvo,
Recorre-se logo à lei da bala
Tanto pro mal como pro bem.

Piratas e corsários haverá
Sempre que o homem deixar
Ou se não estiver d´ atalaia:
Tanto hoje como amanhã
Qu' a sua atenção não descaia
E não se disponha a dormir.

Duas nobres Instituições,
Pro Sistema são coisa boa,
Mantendo-lhe em alta a saúde:
Fora a parte outras opiniões
No que concerne à virtude
São jóias belas da Coroa!

Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA