A PALAVRA-SEMENTE
"Aos esfomeados da Palavra"
As palavras não são produtos, ah, não são. E, nem sequer, em si mesmas, têm idade: Pois elas não são velhas – e muito menos novas! – Apenas são, tão só, discretas metamorfoses. Toda a palavra é uma palavra-semente Que importa cair à terra para germinar. Ela tem que morrer, vivendo pra renascer, No corpo de um discurso ou de um poema. A terra – sensações, emoções ou intenções – Gerará no seu ventre-virgem toda a aura Inspiradora da letra, pela alma do poeta, Que, por sua vez, lavrará a terra a seu jeito. Todo o poeta, que se preze, é um semeador Que vagueia em busca da palavra-semente; Prepara a terra, com o arado da paixão; Lança a semente e fica esperando a colheita. Mas há que acautelar e fazer vigilância, Pois a terra, por vezes, torna-se madrasta Que, infestada pelos corvos predadores, Impede qu´ as palavras cheguem ao destino. Se em cada primavera a palavra é renovo, Ela torna-se plantio e frutifica no poema, Na esperança de ser luz e de ser alimento Para que brote vida, com arte e com encanto. Palavra, que é semente, que é pão e magia, Palavra, que é fermento, logos e verdade, Palavra-testemunho qu´ é vida e liberdade Palavra-verso, qu´ é água clara em poesia. Palavra-grão em onda de trigo ceifado, Que é batido na eira, em dança-desafio, Palavra-profecia, conduta de ternura, No raio incandescente de um farol eterno. Ó palavra-semente, palavra peregrina Que calcorreias as veredas da promessa, Vem cada dia ao meu encontro, pois te espero No baloiçar do tempo e na brisa da festa. Tu és poesia, desde o princípio do mundo, Tu és balada, tu és musa e madrugada. Ó palavra-semente, ó meu campo fértil E partitura colorida para se cantar! Frassino Machado In JANELAS DA ALMA
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 20/03/2019
Alterado em 20/03/2019 |