ODE À REPÚBLICA
«Dia 5 De Outubro de 2021»
Nestes meus versos quero cantar-te, ó república Deste País que andas à deriva e sem nexo Não distinguindo o que é coisa privada ou pública Deixando, integralmente, o cidadão perplexo. Quero cantar-te, já que louvar-te não sei Por saber que em ti não há respeito nem lei. Quero cantar-te nesta balada que é fado, Fado trinado numa guitarra ferida, E canto pelo meu povo desencantado, Não encontrando um sentido real pra vida. Eu não te louvo, pois não te acho com graça, Muito menos capaz de rasgar tal mordaça. Tu, ó república, suspiras pelos teus direitos E sentes revelar-se o teu sonho gigante, Aquele sonho que teima em reencontrar os feitos De um histórico devir com gesta delirante. Mas tu, república, olvidas todos os deveres Que te compete cumprir para t´ engrandeceres… Tu, ó república, tens direito à Educação Mas, onde está a tua verdadeira escola: No lar de cada família ou de cada mansão À espera que ela surja como uma esmola? Ai, ó República, quem por ti irá responder Às marés de ignorância que tendem a crescer? Tu, ó república, tens direito à Igualdade Mas, onde está o teu verdadeiro estandarte: Será que todos são iguais por equidade Ou, uns mais iguais qu´ outros, por engenho e arte? Ai, ó República, quem por ti irá travar A onda de desprezo que tende a alargar? Tu, ó república, tens direito à Justiça Mas, onde está a tua verdadeira balança: Será que o pobre e o rico cantam a mesma missa Ou algum destes consegue maior cobrança? Ai, ó república, quem por ti arrancará Toda esta máscara de ontem, d´ hoje e amanhã? Tu, ó república, tens direito à Habitação Mas, onde está a tua verdadeira morada: Será quem mais riqueza tiver, tendo à mão Tudo o que na vida quiser, sem faltar nada? Ai, ó república, quem por ti há-de gritar Toda esta especulação que tende a germinar? Tu, ó república, tens direito ao teu Sustento Mas, onde está o teu verdadeiro ganha-pão: Naqueles pra quem o capital é fundamento Ou naqueles que são vítimas de exploração? Ai, ó república, quem te há-de defender Desta corrupção que intenta recrudescer? Tu, ó república, tens direito à tua Defesa Mas, onde está a tua verdadeira imagem: Nas agressões contra o estado da natureza Ou naqueles que desprezam a tua coragem? Ai, ó república, quem te haverá d´ acudir No surto de violência que tende a explodir? Tu, ó república, tens direito à Fraternidade Mas, onde está o teu verdadeiro sossego: Naquela doce paz sem conflitualidade Ou na ameaça nua e crua do desaconchego? Ai, ó república, quem te há-de dar valor Neste mundo de desconcerto e sem amor? Tu, ó república, tens direito à Liberdade Mas, onde está a verdadeira autodeterminação: No desrespeito para com a tua identidade Na mera ideia de seres joguete de numeração? Ai, ó república, quem é que te explica? Só o Povão que diz: isto é que vai uma República! Sim, tu és uma trágico-comédia… e mais nada, Onde, em cada sítio, abundam mil e um sacanas, Tratando tudo e todos, à laia de macacada, Fazendo do país uma República de Bananas. Ai, república, república, quem te viu e quem te vê… Pobre do Cidadão, qu´ o é sem saber porquê! Frassino Machado, In “Roda-Viva Poesia”
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 05/10/2018
Alterado em 05/10/2021 |