PRESÉPIOS DA VIDA
Eu fiz um belo presépio
Cá muito dentro de mim Ele não é frio nem tépido Mas é rubro de carmesim. Tem um menino trigueiro, Tem Maria e tem José, Tem aconchego e braseiro Com animais ali ao pé. Três corações que palpitam P´ los traumas que a vida tem E os animais que acreditam Naquele Presépio de Belém. E há corações tresmalhados Nos meandros tristes do mundo, Quais presépios ficcionados Com falta de senso profundo. Ele há presépios, de facto, Nos quatro cantos da terra Bailando em fado abstracto Por entre a paz e a guerra. Presépios de encantos vazios Sem conteúdo e à deriva Que não são quentes nem frios Nem têm norma que sirva. Presépios, feitos de aposta Ao sol, à chuva e ao vento, Subindo e descendo a encosta Sem fazer contas ao tempo. Presépios – rios de sangue – De altas e baixas marés, Vertem pela alma exangue Um espírito de insensatez. Presépios férreos de cor Com falta de paciência Num oxidado torpor Sem culpa nem penitência. Presépios, telhados de vidro, Estilhaços de presunção, Passos de um cego perdido Em busca de orientação. Presépios em desmazelo Com selvas em toda a volta, Ervas daninhas e gelo, Com turvas águas à solta. Presépios feitos de ócios E sermões encomendados, Cordas de forca-negócios De penhoras e mercados. Presépios de fogo-vadio Sem destino ou direcção Que não aguentam feitio Muito menos sujeição. Presépios sem temperança, Tão doces como amargos, À sombra de birras-criança Com chantagens e encargos. Presépios sem rumo certo, Nem uma estrela brilhante, Travessia de um deserto Sem colorido ou cambiante. Presépios de fim-de-festa Portas fictícias de Natal No fundo ninguém contesta Porque já é tão natural… Há mais “presépios da vida” Que não têm Vida, porém, São panaceia acrescida E não enriquecem ninguém! Frassino Machado In ODIRONIAS www.opcaopoetica.blogspot.com
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 06/12/2017
Alterado em 07/12/2017 |