O DIABO EM PORTUGAL
“Em vésperas de São Bartolomeu”
Neste Verão tão anormal Com ares de que é moderno Veio o Diabo para Portugal Trazendo consigo o inferno. No ano transacto não veio, A vida corria-lhe mal, Mas veio agora e sem freio Neste Verão tão anormal. Gosta pouco da concorrência – Muito menos deste governo – Mascarou-se de violência Com ares de que é moderno. Todos sabemos, e bem, Como vai sendo habitual Sem pedir licença a ninguém Veio o Diabo para Portugal. Por entre ondas de calor Fingindo-se muito sereno Anda por aí feito senhor Trazendo consigo o inferno. As chamas por todo o país Alargam-se de terra em terra Das árvores só escapa a raiz De sul a norte triste guerra. Mas não é só na floresta, Há um inferno em todo o lado, Ao país já pouco lhe resta Ficando o povo desgraçado. De tal ordem é o flagelo E tão trágica a anomalia, Que em Viana do Castelo Se reza à Senhora d´ Agonia. Até o prelado da cidade Exige aos lusos maiorais, Que, em vez de passividade, Façam muito, muito mais… E o Diabo, surdo e mudo, Já cego co´ aquele oiro, Vai queimando por aí tudo Num desfile de mau agoiro. Mês de Agosto, mês ardente Em que nunca tal aconteceu: Vem este Diabo repelente Desafiar São Bartolomeu. Ele perdeu-lhe o respeito Exigindo aumento de férias; E, p´ ra espanto, qual o direito De andar semeando as misérias? E o Santo, que não é português, Pôs-se a dormir, dias a par: Ou prende o Diabo de vez Ou ninguém lhe vai perdoar… De tal maneira reina o fogo Neste vil e miserável estio Que ninguém entende este jogo: Se é recorte ou se é feitio. E ninguém lhe vai perdoar, É dos Lusos a convicção, Se o Diabo não se põe a andar Jamais esquecerá a lição. Frassino Machado In ODIRONIAS
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 21/08/2017
Alterado em 21/08/2022 |