NO PAÍS DAS MACAQUICES
Eu pinto esta estória brilhante
Que nada tem com aldravices, Quero aconselhar ao viandante Este país das macaquices. Eu sou feliz entre os macacos E tudo acontece num instante Por ser um país de buracos Eu pinto esta estória brilhante. Dizem que eu sou inteligente E que jamais pratico imundices O que eu faço é o frente a frente Que nada tem com aldravices. Nunca escondo nada a ninguém E não aparento ser meliante Tudo o que faço é só por bem Quero aconselhar ao viandante. Por mim, uso tintas normais, Nunca alinho em gabarolices E só pinto, em traços gerais, Este país das macaquices: Doutores é o que mais se vê, De tudo e mais alguma coisa, Escrevem livros que ninguém lê Malquereres ninguém lhes ousa. São excelentes economistas, Todas as contas batem certas, Mas odeiam as entrevistas Politicamente incorrectas. Entre exímios advogados Toda a causa é para vencer Com direitos incontestados E o marfim sempre a correr. Engenheiros, oh, não há falta, Em projectos de causas nobres, Aquilo que fazem o mundo exalta, E o que ganham são meros cobres. Há bons médicos e hospitais, Disso ninguém se pode queixar, Se os há dos tempos imemoriais As doenças tenderão a acabar. Escolas com bons professores Há-as sempre e em cada esquina Cursos, mais cursos e valores, São tantos que ninguém atina. Não faltam guardas nem bombeiros, E muitos qu´ a vista não alcança, Em tecnologias somos pioneiros Garantida está a segurança. Somos todos tão bons de bola Nas cantilenas e festivais E se alguém precisa d´ esmola É só pedir e chorar por mais. Fala-se que até há corrupção Mas é tudo gente muito séria A fartura só dará ocasião Para se acabar co´ a miséria. Se temos ou não educação, Isso se vê p´ la qualidade, Há carinhos de mão em mão E muita solidariedade. Há bons ministros e militares, Prás tarefas que temos sobejam, Não há problemas nem azares Embora os avanços se não vejam… Se há atraso ou há progresso, É tudo uma questão de zelo Mais vale assim-assim qu´ excesso E o qu´ há mais é dor de cotovelo. Neste país das macaquices Pra quem não quer até há trabalho E, quando toca a modernices, Cada macaco no seu galho. Quanto a moral, venham daí, quantos são? A nenhum país temos medo De ninguém recebemos lição E não fazemos, disso, segredo. Dizem pra aí que está tudo mal, Para a política é muito feio, Mas saibam todos qu´ em Portugal Pra cada macaco, macaco e meio! Frassino Machado In ODIRONIAS
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 04/07/2017
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