O SILÊNCIO DA LAPINHA
Um dia, após o nascimento do Salvador,
Caiu sobre a Lapinha um silêncio e um temor. José sonhou que o mais tirano dos tiranos Mataria as crianças menores de dois anos. Espalharam o boato em toda a redondeza Que viria o Herodes co´ a sua malvadeza. Secaram as palavras nos progenitores E o mesmo aconteceu na alma dos pastores. Apenas um rugir dos carentes animais E lá fora, na noite, o uivo dos chacais. Houve troca de olhares em almas sem rebuços Deixando revelar somente alguns soluços. - “Que faremos sem paz, sem água e alimento?” Segredaram os dois bloqueados em sofrimento. - “Vamos fazer as trouxas, vamo-nos salvar E partir muito antes de a aurora raiar”. - “Temos cá um jumento e uma velha carroça E venceremos a distância que é bem grossa". E foi assim que se salvou, sem mais quezília, Aquela que Deus fez como Sagrada Família. Desta forma em silêncio foi José, aflito, Levar Maria e o Menino até ao Egipto. E por toda a Judeia o que é que aconteceu? Chispou a fúria do Tirano debaixo do céu: Milhares de criancinhas quebraram o silêncio Bradando aos quatro ventos o seu grito imenso. O silêncio salvou, o silêncio matou E a Tirania, essa, aos poucos soçobrou. Mas tudo o que é silêncio ademais denuncia Que a distância entre o Mal e o Bem é fantasia… O silêncio de agora é, porém, mais profundo Pois que o Mal, em si mesmo, é que reina no mundo. E não há uma palavra apenas que o trave Neste mar de procela cada vez mais grave. O ruído do mundo, volteando em Babel, Assumira na Lapinha um silêncio de fel… O silêncio eficaz que sempre se alcança, Resulta duma fé, resulta duma esperança. A luz desta Lapinha irradiou, num só verso, O salvífico sonho de todo o Universo! Frassino Machado In ODISSEIA DA ALMA
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 26/12/2016
Alterado em 26/12/2021 |