CAI CHUVA NA POESIA
“Assim vai a Poesia”
Meu lamento se extasia Qual justo libelo, ou não, Cai chuva na Poesia E cai no meu coração… Desculpai, ó palavras, desculpai, Se neste desabafo vai meu lamento, Rasgo em meu peito aquilo que nele vai Em réplica a esta chuva e a este vento. Ao ouvir o triste canto da cotovia, Que acordou estremunhada p´ la manhã, Vendo que a cada hora mais chovia Pantufas pus que são o melhor que há. Meu lamento se extasia Qual justo libelo, ou não, Cai chuva na Poesia E cai no meu coração! Todavia, saindo dos meus enfados Por um curto horizonte à minha volta Dei olhada aos livros e aos mercados Que ainda existem aqui e ali à solta. Livros? Nos escaparates só ficção, Só revistas, romances e atavios, Jornais, terror… mas a Poesia não Que o tempo não faculta os desafios. Meu lamento se extasia Qual justo libelo, ou não, Cai chuva na Poesia E cai no meu coração! - Sim, há qualquer coisinha ali na estante Mas eu vou ver aqui no computador”, Diz o estagiário, quase provocante, Conferindo a internet com despudor. - Tivemos esses livros aqui há dias, Mas, com certeza, já estão esgotados Só por encomenda (e algumas mordomias?) Vai um problema em todos os mercados… Meu lamento se extasia Qual justo libelo, ou não, Cai chuva na Poesia E cai no meu coração! - Sabe, é que esta Poesia mete dó E se houver livros desses, no armazém Talvez os haja… mas cheios de pó, Não têm venda, nem mesmo a vintém… Por estas e por outras, a Cultura Essa, sim, rodopia como a lesma E passeia p´ las ruas da amargura Escancarando a imagem do Sistema. Meu lamento se extasia Qual justo libelo, ou não, Cai chuva na Poesia E cai no meu coração! Não acredito que anda por aí azar Pois de Poesia nada, mesmo nada, E, pelos vistos, assim vai continuar Pra desgosto da classe aficionada. Ai Poesia, ai poetas desmotivados, Se não chegar por aí uma concórdia Que faça finca-pé aos tais “mercados” … Sobeja-nos, quem sabe, a Misericórdia. Meu lamento se extasia Qual justo libelo, ou não, Cai chuva na Poesia E cai no meu coração! Assim vai a Poesia, no seu estertor, Alguém compensa esta nostalgia? Perdeu-se toda a estima e o valor Que esta Arte merece em demasia! Isto é verdade ou não? Cai chuva na Poesia E cai no meu coração! Frassino Machado In RODA-VIVA POESIA
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 14/04/2016
Alterado em 14/04/2021 |