Euridice, minha amada,
ainda hoje eu não sei
a razão da tua cartada
quando de ti me afastei.

Com certeza um outro olhar
certo dia te encantou
pois te fez modificar
nossa paixão que durou.

Partiste pelo mundo fora
atraída p’ la incerteza
por vias daquela hora
que em mim virou fraqueza.

Eu nunca faria assim,
triste de minha Euridice,
porque seria p’ ra mim
apenas uma tontice.

Por ti foi uma imprudência,
ingenuidade também,
e porque te deu clemência
meu coração só fez bem.

Quanto a mim não fui capaz,
depois desta maldição,
nunca pude viver em paz
procurando outra paixão.

O vento me fez chegar
notícias mui variadas:
Euridice a versejar
nas noites e madrugadas.

Pelo eco dos madrigais
e ao sabor das maresias
louvaram-na os jograis
por entre vãs cortesias...

Herói de sete partidas,
ai de mim, ó lutador,
já não tenho sete vidas
e, quem sabe, um novo amor.

Apenas sonho, apenas,
que outro dia chegará,
terminarão minhas penas
e Euridice voltará !


Frassino Machado
In CINZAS DO MEU PASSADO