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Textos

MISSIVA DE & PARA JOAQUIM PEREIRA
Lisboa, 11 de Junho de 2015

MISSIVA DE & PARA JOAQUIM PEREIRA – Presidente da Autarquia da Freguesia de Nespereira-Guimarães

“Caro Dr. Francisco Machado,
Os meus cordiais e sinceros cumprimentos.
Caríssimo amigo e ilustre conterrâneo, Joaquim Pereira, em primeiro lugar gostaria de lhe dizer que, tendo sido muito amigo de seu pai (com o qual privei muitos momentos de convivência sadia, chegando a ser visita frequente dele em certas alturas…) faço questão de pormos de lado as formalidades académicas e fiquemos apenas com as da boa amizade, pode ser? É que, mesmo que sejamos portadores de habilitações universitárias (como parece ser o caso) dentro do âmbito da sã convivência, a cultura e a amizade deverão sempre, na minha opinião e convicção, sobrepor-se às formalidades circunstanciais, não acha?
Por incrível que possa parecer, uma vez que não tenho memória de, alguma vez, ter tido a honra de privar com V. Ex.ª, o que é certo é que, desde de muito jovem, guardo memórias suas, passadas pelo meu saudoso pai. Recordo com saudade um campeonato de atletismo, a que assisti na companhia do meu pai, via RTP 2, e no qual o senhor participou como atleta, "se bem me lembro", numa prova de barreiras, com a camisola do Benfica. O meu pai ia dizendo "... estás a ver... aquele ali... é de Nespereira e é meu amigo de infância... é o Francisco, o Assis da Beira..", e eu, orgulhoso das amizades de meu pai, torci por si! Foi, talvez, a primeira e única vez que torci pelo Benfica.  
Pois, é certo. Fui atleta do Benfica e da selecção nacional, durante vários anos, e muitas das minhas competições eram transmitidas pela TV. Aliás, antes de eu me fixar em Lisboa (contratado pelo Benfica) ainda tentei a chance no futebol doVitória Sport Clube – meu Clube desde sempre - (com o Nuno Morais, professor de ginástica na Francisco de Holanda, onde estudei quatro anos, mas o mister, que era todo sportinguista, cheirou-me que ele me queria levar para o Sporting e, como eu na altura era mais Benfica e/ou Vitória… deixei-me disso); o sr. Barreira, treinador das camadas jovens, como eu corria mais que todos, quis-me rodar a extremo nos juvenis do Clube e ainda joguei durante quase um ano. Depois, fixou-me a guarda-redes (e estava a adaptar-me razoavelmente, chegando a jogar oficialmente alguns jogos. Por ter tido um pequeno incidente com as máquinas da Escola, comecei a usar óculos e, como é óbvio – não havendo ainda as lentes de contacto, como hoje – abandonei a ideia do futebol.
Mas a minha paixão, desde muito novo, era “engolir quilómetros”… por isso fiquei-me pelas corridas. Os meus percursos perferidos eram os trajectos de ida e volta (duas três vezes por semana) entre: Guimarães-Guimarães, via Penha (tomando duche no Vitória); Beira-Penha, ida e volta, tomando banho no fresco tanque da Beira; Beira-Candoso-Beira, via Senhoras do Monte, mesmo banho; Beira-Guardizela-Conde, via Gandarela, mesmo banho; Beira-Barrosas-Beira, via Vizela, mesmo banho; Beira-Guimarães-Beira, via S. Amaro ou Creixomil, mesmo banho; etc. etc. … E sempre com a camisola do Benfica, dizendo sobre o peito SLB, em letras brancas garrafais e bordadas pela minha irmã Alice, já falecida…
Termino este item, dizendo que a tal prova de pista, a que se refere, não foi em barreiras. Terá sido 1.500 metros ou quando muito os 5.000 ou 10.000 metros, onde tive o previlégio de cumprir concorrência com ilustres atletas, alguns mais conhecidos que eu: Anacleto Pinto, Carlos Lopes, Aniceto Simões, Armando Aldegalega e até Fernando Mamede, tudo gente de boa cepa, como saberá.  
Depois de dez anos de alta-competição (como se dizia na altura) fui treinador de atletismo noutros dez, em meio-fundo, tanto do Benfica como do Belenenses, onde partilhei o cargo com o olímpico Carlos Lopes. E foi com ele que, uma vez, fomos a Guimarães competir, com os nossos atletas. Ficámos hospedados na Penha de sábado para domingo e de regresso a Lisboa, almoçamos em Serzedelo, no “Segredo do Abade” que parece ainda está funcionando em grande… Na próxima vez que aí for terei de lá voltar, pois ficou-me sempre muito boa impressão.
Nas categorias de Juvenis e Juniores fui bastante laureado no Sport Lisboa e Benfica com excelentes resultados dos meus atletas, tanto masculinos como femininos. Privei vários anos em Lisboa com os nossos “conterrâneos” irmãos Castros, Domingos e Dionísio. Vários dos meus atletas foram seus competidores. E fui, já agora, um dos introdutores em Portugal da Marcha Atlética, com atletas nos Jogos Olímpicos e em campeonatos do mundo. Tudo isto, no desporto.  
Mas, como se deduz atrás, nas “horas vagas” ainda me licenciei em Filosofia (U C P) e em Histórico-Filosóficas (Clássica de Lisboa), entre 1972 e 1979; e em composição e órgão (3º ano), pelo Instituto Gregoriano de Lisboa, tendo exercido o magistério de professor do Ensino Secundário, em História e Música, durante 32 anos. E, todos os fins-de-semana, desde os anos setenta, tenho sido organista oficial, nos franciscanos da Luz.
De há uns anos a esta parte – aposentado há dois anos - tenho-me dedicado às Letras, nomeadamente à poesia, ajudando a dinamizar algumas «tertúlias literárias» lisboetas e participando em programas musicais de dominante poética, cantando ou recitando, em partilha com a minha esposa.
Como sabe, sou irmão do Abel Cunha, também formado em Filosofia e Música e que mora habitualmente no Porto… e eu em Lisboa.
Frequentemente, em afaires literários, desloco-me ao Porto e, algumas vezes, tenho passado esporadicamente aí pela Beira, quase só para matar saudades. Por isso mesmo é que quase já não me recordo bem dos amigos de infância, como poderá compreender.  
Referi todo este historial, já que – se estou falando com um digníssimo autarca – cheguei à conclusão que o melhor era ser eu a fazer esta actualização oportuna – já que recordar é viver…
Bom, passo a apresentar-me. O meu nome é Jorge Pereira. Sou filho de António Pereira, malogradamente falecido em 2010, conhecido em Nespereira pelo Ruivo ou "Tónio Ruço", das propriedades e que, por influência de Vossa estimada família, teve a oportunidade de ir estudar para o Seminário Franciscano do Montariol, em Braga, o que lhe permitiu, depois, fazer carreira na Caixa Geral de Depósitos.
Eu também cheguei a estar em Montariol, depois passei por Leiria, Torres Vedras e finalmente em Lisboa (na Luz), mas só estudei até ao fim da Filosofia, nos primeiros anos do lançamento da Universidade Católica. Passei por Mafra, em finais de 1973 e inícios de 74 a preparar-me para ir para Angola. Mas o «25 de Abril» fez-me virar a página… a mim e ao País.
Não sei se o Dr. Francisco se recorda desses tempos e de meu pai, Mas o simples facto deste contacto facebookiano, permitiu-me reavivar tão gratas memórias, pelo que não poderei deixar de lhe agradecer.
Eu é que lhe agradeço caro Pereira … já me lembro perfeitamente. Recordo-me de ter passado experiências com o seu pai a estudar, nas propriedades, junto à Beira não é? Não me recordo bem já para que finalidade: Ciências-Físicas, História, Geografia, Latim e… outras coisas mais. Porque tínhamos os mesmos livros… velhos tempos! Às vezes ía-mos tirar dúvidas à Aurorinha, não sei de donde.
Mas o “Tónio Ruço” de memória e em conhecimentos era bom em muita coisa e tinha um gosto desmedido pela cultura.
Depois perdi-lhe a “pista” (desculpe o termo) durante uns tempos e ele numa certa altura, em que eu estava de férias, convidou-me a ir a casa (acho que nos Senhores dos Aflitos, não?) para vermos o Benfica europeu na televisão, coisa que na Beira não era possível.  
Foi uma perda o seu pai ter partido ainda cedo, para a família e para a freguesia. O ano passado fui, com o meu irmão, ao campo santo – para ver o mausuléu da minha mãe – e o meu irmão disse-me (alguns metros adiante do lado esquerdo), apontando para uma lápide com foto, “sabes quem era aquele ali?” de imediato não reconheci mas, lendo melhor os memoriais, lembrei-me logo dele… tenho uma certa nostalgia dos chutos que dávamos na bola, sempre que podíamos, no terreiro de Cezim.
Actualmente, seguindo os passos de meu pai, lidero o PS local e a respectiva Junta de Freguesia.  
Dou-lhe os meus parabéns, caro Joaquim, pela função nobre e basilar que representa e cumpre. Eu sei que o “Ruço” era, de facto, pioneiro em Nespereira, do ideário socialista e não só. Lembro-me que uma tarde, a passear na gare do apeadeiro, para trás e para a frente à espera da automotora, conversámos demoradamente acerca de Marx e Engels. Penso que ele tinha um livro qualquer sobre o assunto…  
Eu, desde sempre - dos tempos da Js da Faculdade de Letras de Lisboa – sempre em luta tenaz e permanente com a UEC e o vizinho MRPP - tenho sido militante do PS e fui camarada assíduo do Manuel Arons de Carvalho e do irmão, mas nunca exerci propriamente cargos políticos, a não ser participando em comícios, congressos e quejandos e cumprindo missões circunstanciais em mesas de votação, as mais diversas, uma vez que, fazendo profissão e paixão de professor, sempre preferi dedicar-me às Letras e às Artes. Pertenço à Secção do PS da Pontinha e à Concelhia de Odivelas, onde pontifica, como sabe, Susana Amador.
O nosso projecto assenta, essencialmente, na valorização das pessoas e no que é nosso. Tem uma componente imaterial muito vincada, até porque uma sociedade sem memória, é uma sociedade sem futuro. Assim, temos promovido um conjunto de iniciativas que visam promover todos aqueles que, por nascimento ou opção de vida, estão intimamente ligados a Nespereira e cujo talento artístico os distinguem dos demais.
No seguimento do exemplo deixado por Raul Brandão e Maria Angelina, de quem fui um amigo muito carinhoso, ajudando-a, em pleno inverno, a calcorrear os lastimáveis caminhos (na altura) entre a igreja paroquial e a Casa do Alto. Dizia-me ela, ao sair da missa, “Vem comigo Chiquinho, que o caminho tem muita água e estou com medo de molhar os pés”… E eu lá ia até ao Alto, passando lá muitas manhãs a ajudá-la a colocar em ordem a valiosíssima biblioteca do marido. E ela sabia de cor todos os livros que ele deixou! Enquanto tomávamos o pequeno-almoço quentinho, com um biju estaladiço, ela contava-me tudo! Passei assim muitos anos da minha juventude.
A propósito de “livros”, logo que eu puder mandar-lhe-ei para a sua/nossa Junta quatro dos meus livros de poesia que tenho publicado. O quarto vai sair dentro de três ou quatro semanas.  
Nesse sentido (permita-me o descaramento...), está convocado/convidado a tomar parte destas iniciativas. O modo e a forma serão tratados noutra altura, assim nos dê a honra de aceitar o repto que aqui lhe deixo.
Com todo o gosto o aceitarei. O prazer será sempre meu, pode crer.
Para já, e desde já, lhe garanto que lhe enviarei brevemente estas minhas literaturas. Solicito, apenas, que me confirme o melhor modo de o fazer, ok?
A missiva já vai longa, por isso fico-me por aqui, na convicção de que este é apenas o início de uma relação que revelará frutuosa para Nespereira.
Aceite os meus respeitosos cumprimentos, Jorge Pereira (Tem: 934414832)”

Um abraço cordial do poetAmigo Frassino Machado
SAUDAÇÕES SOCIALISTAS
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 11/06/2015


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