TROVAS E LAMENTOS
“À Célia Cavaco”
Escuta, ó lua minguada, Desse céu mal arrumado Meu pranto de madrugada É um triste fado enjeitado. Ouço tiros e vejo facas, É assim que vai o País, Gentinha de ideias fracas Sem ter siso nem raiz. Já são pais e já são filhos, São irmãos e são amigos, Há tristezas e há sarilhos Com sofrimentos e castigos. Boas mães e bons maridos, Fortes homens e mulheres, Com ciúmes reconvertidos Em negócios e afazeres. De manhã são namorados, E de tarde namoradas, Há corações recalcados E vidas atabalhoadas. Há sangue dentro das casas E sangue a correr nas ruas Aos anjos cortam-se as asas Voando lágrimas cruas. No poder há desgoverno, Anda a dormir a justiça, Todo o país é um inferno Com tanta lei movediça. Consta que há vários partidos E certas instituições, Parece um país de vencidos Despido de convicções. Desconhece-se a galhardia Boceja-se o dia inteiro E a única benfeitoria É quando alguém tem dinheiro. A terra parece madrasta E se há pão come-se duro A paciência já está gasta E tem-se medo do futuro. Há um vazio de crianças E as poucas que ainda há Irão crescer sem esperanças Como névoa p´ la manhã. Da escola não há notícia, A Moral foi ar que lhe deu, A saúde é tão fictícia Quem a não tem já morreu. O suor sabe a vinagre E já não há quem lhe vale Talvez só co´ um milagre Terá salvação Portugal. São estas as minhas trovas São estes os meus lamentos Esperemos por coisas novas Trazidas por outros ventos. Frassino Machado In AS MINHAS ANDANÇAS
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 15/04/2015
Alterado em 16/04/2015 |