“Ode ao Drama disto tudo”

Se quem tem o poder e não passa “dum” qualquer,
Se quem tem o dinheiro e diz que não o sabe,
Se quem tem uma faca e bom queijo na mão
Quer se trate de um homem ou duma mulher,
Que país é este, hem, em que nele não cabe
Todo aquele que sonha vir a ter condição?

Se quem tem a justiça mas só dela abusa,
Se quem tem os recursos mas não os confere,
Se quem tem alicerces mas nunca constrói
Por não ter competência ou dela se escusa,
Que país é este, hem, em que há quem prefere
Defender o que é seu ou então o destrói?

Se quem tem património mas o desbarata
Se quem tem boa terra mas não lhe dá lavra,
Se quem tem sã floresta de que nunca cuida
Por não ter quem o sabe nem nunca contrata,
Que país é este, hem, que não usa de palavra
Para semear e, quanto a colher, se descuida?

Se quem diz cidadão porém não o consente,
Se quem finge cultura mas nunca a aceita,
Se quem jura razão mas não tem hombridade
Badalando ter fé mas, porque não tem, mente,
Que país é este, hem, que sempre se ajeita
Seja lá no que for, menos na identidade?

Se ambicionais riqueza, projectai milhões,
Se pretendeis talentos, inventai banqueiros,
Se ambicionais ter fama, agitai presunção,
Se quereis honrarias, dai corda aos foliões,
Que país é este, hem, ó astros aventureiros
Da vil patranha, da vergonha e usurpação?

Que destino é este, hem? Então, ninguém mo diz?
Ide, batei a cada porta e perguntai,
Olhai em cada rua, ou bairro do meu país…
Vede: ó branca mãe-terra, ó gente boa, ó céus,
Parai, pensai, julgai, que estará a fazer Deus?
Porque será que este Portugal não é feliz?

Quem ousa responder ao repto deste povo,
Que vive tão espezinhado e extorquido
Por uma vilania abjecta e mascarada
Que tudo vai levando e nada traz de novo?
E, já agora, devido ao que ele tem sofrido,
Venha outro País, porque este não vale nada!  

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA