AS BRUXAS DE RIBA CÔA
Muito longe de Lisboa,
Diz o povo que as viu, As bruxas de Riba Côa Mas logo delas fugiu. Às vezes vêm de noite Outras vezes de manhã Crê-se nelas por açoite: Se ele as há, é porque há. O mau vento é que as traz Em boatos de diversão A alguém o jeito lhe faz Por interesse ou invenção. Muita gente se lamenta Num desarranjo venal E dentro de si aguenta Antes assim que mais mal. Magrinho vai o negócio, Sempre de azar em azar, Até ao próximo equinócio Para as contas ajustar. Ninguém confia em ninguém Muito menos se pede fiado Antes só, como convém, Do que mal acompanhado. Se houver mal-entendido, Na troca do pé pela mão, Que desculpe o ofendido Pois não há má intenção. Boa gente fala em dinheiro Mas dele nem sombra se vê Traquita-se o dia inteiro E em vez de meia, só o pé. Sem escola nem tribunais O povo que se arreganhe S´ a saúde não der pra mais Cada qual que se amanhe. Os hospitais já deram alta, Há bom ar e melhor água, Se d´ algo mais houver falta Cure-se a dor com a mágoa. A alma do corpo hiberna Num mealheiro qualquer Ou à porta da taberna S´ ainda na terra a houver. Está na hora das mezinhas, A Ti Maria mora perto, S´ alguém for para as alminhas Vai de graça, qu´ é o mais certo. Dizem por lá, os de Lisboa, Que dá sempre pra viver Mas por aqui em Riba Côa Não há côdea para roer. Os do Estado, sem termo Têm banquetes e honrarias Mas nestas terras do Demo Só há mesmo bruxarias… Frassino Machado In RODA-VIVA POESIA
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 03/11/2014
|