(A propósito da desobediência
Ao rei Dom Sancho I)

Estarás desiludido, ó honrado monarca,
Pela desfaçatez da Guarda & habitantes,
Ainda mais p´ lo desavergonhado autarca
Que ousou desafiar o teu Foral de antes.

Tu concedeste-lhes direitos e privilégios,
Tu deste-lhes a honra, a lei e a cultura,
Tu melhoraste-lhes a vida e os sortilégios
E eles sujaram a alma nesta desventura.

Foste, de corpo inteiro, a sua maior bandeira,
Colocado bem alto em digno pedestal,
E eles, demonstrando uma ignóbil cegueira,
Atraiçoaram a nobre grei de Portugal.

A memória da Cidade, por ti apaixonada,
Perdeu o seu fervor e já não tem saudade
Nem espera por ti à hora suspirada
E, quem sabe, talvez seja demasiado tarde…

E, quando um viajante procura indagar-te,
Tentando descobrir tua excelsa visão,
Depois de muito olhar em redor por toda a parte
Descobre-te, por fim, no meio da escuridão.

Ai Dom Sancho, tu não merecias tal afronta
Nem perder a homenagem que te é sagrada,
Esperando inda ouvir num canto que se apronta
“Ai nós, quanto nos tarda nosso amigo na Guarda”!

Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE