A VELHA DA CANTAREIRA
“A Raúl Brandão,
Pensador do mar…” Chegado pela tardinha do Alto-Nespereira, Passou Raúl de humor um pouco angustiado Naquele mar da Foz, bastante assoberbado, Cujas ondas varriam toda a Cantareira. Crestada pelo tempo, com gesto eriçado, Indiferente à maré de inverno costumeira, Olhou aquela velha que ia passageira Vomitando impropérios contra o mar irado. - Ai Tóino, Tóino, má raios partam o mar, Ai home dum cabrão que foste no batel Deixando-me sem pão e a saber a fel… - Ai Tóino, Tóino – e a velha sempre a gritar – Se este maldito mar com fúria te engoliu Raios me levem esta sorte que me fugiu… E o bom Raúl continuou meditabundo Desfiando, um a um, os males deste mundo: - Ai velha de uma cana, com filhos a rodos, E aquele ingrato mar que os levou a todos! Frassino Machado In MUSA VIAJANTE
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 10/02/2014
|