Do tempo que me deste Lira, em desacerto,
Não encontro o perene fio da meada
Nem sustenho sequer a luz da madrugada
Neste complexo mundo feito num deserto.

Por tudo aquilo que acontece, longe ou perto,
Aumenta em confusão em cada encruzilhada
Tornando toda a solução desencontrada
Em remexida vida sem destino certo.

Passam os dias num oceano de emoções,
Passam as horas emprenhadas de ilusões
Num fruto recolhido em fel e amarguras…

Abundam as promessas, sobram os profetas,
As tarefas abortam ou são incompletas
E cada humano sonho gera desventuras.

Ai Lira, que me deste lira em contraluz,
Mostra-me a incandescente chama que conduz
Ao palácio encantado das ideias puras…

E, se perdido em siderais constelações,
Que eu cante ao menos p´ ra alegrar os corações!

Frassino Machado
In LIRA BEM TEMPERADA