CANTO DE FRASSINO

Os meus horizontes são de Vida e de Esperança !

Textos

TERTÚLIA DAS AGONIAS
Com as férias realizadas
nesta quadra de Natal
deixamos as rabanadas
e outras coisas que tal.

Passámos p' lo ano novo
sem deixar grande saudade
pão-de-ló, passas e ovo
comidos com sobriedade.

Era terça pela tarde
de dias ensolarados
aparecemos com alarde
muito bem encasacados.

De uma irmã acompanhado,
que desceu à capital,
com sorriso ornamentado
dividido por igual.

'Stava um taxi na paragem
com Miranda afogueada
qu' o Carvalho n’ atrelagem
dá montanhas de maçada.

“Está a ver, ó professor,
o que passo cada vez,
carregada e com calor
gramo sempre este freguês”.

Quatro mesas bem dispostas
foram logo aparelhadas:
"ui, não posso destas costas
trouxe as bolsas carregadas"...

Carvalho e Dona Miranda,
o Machado e a Conceição,
sentaram-se ali de banda
cada um de sua feição.

Dona Miranda falou
que não 'stava nos seus dias:
"a tosse não me deixou
e muito mais as alergias"...

Vem Virgílio circunspecto
ajaezado e com gravata,
aparenta grão respeito
não fosse ele “Lobo Mata”.

Mas diz logo bem lampeiro
“não me fico p’ la paisagem,
meu carro ‘stá no ferreiro
e eu saio já de viagem”.

A Perpétua e mais Eugénia
deitam logo fala dura,
precisão para a boémia
solicitam à Directura .

A Lourdinhas Agapito
de chapelinho matreiro:
“vim aqui dar um saltito
qu’ o meu tempo é mui ligeiro”.

A Custódia, pois então,
não tem tempo p’ ra mensagens:
“pois a minha ocupação
é da escola as dosagens”.

“Não desculpo tal desleixo,
diz a nossa Presidente,
o exemplo que te deixo
não te torna previdente ?”

“Como tu há muita gente
cada um seu berbicacho
Deus defende quem é crente
colocando a mão por baixo”.

“Tu, porém, não tens emenda
quanto mais o digo a ti
ninguém há que te entenda
nem burrinho que tal vi”.

‘Stás aí com três na mão
p’ ra fazeres comigo a conta
já não levas p’ ra lição
até que se vá a afronta...”

“Já agora os da Editora
‘stão comigo equivocados
os Arautos ´stão pela hora
que nem dão par’ os trocados”.

“Vivemos num mundo-cão
toda a gente a enganar
pensando que têm razão
e não ‘stão p’ ra se ralar...”

“Mas, comigo, assim não
eu sou muito boazinha
mas se vejo confusão
ponho toda a gente em linha!”

A Amelinha e a Celeste
de maneiras bem diversas
cada uma à vez investe
com feitios às avessas…

Vem Eloy e a Ferreira,
cada um seu acessório,
engatado na cadeira
p’ rar ficar mais meritório.

Conceição e Graciett
ambas com sua maneira,
o ambiente se converte
numa forma prazenteira.

Vem Madame e primo Orlando
procurar o seu Arauto,
de saúde vão andando
neste mundo tão incauto…

A Tertúlia foi passando
uma volta de leitura
cada um ‘stá preparando
recital p’ ra prefeitura.

“Qualquer dia faço mossa
se as coisas não saem bem
toda a culpa será vossa” ...
adivinhem quem disse, quem?


Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 01/12/2006


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