CANTO DE FRASSINO

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Meu Diário
30/12/2007 22h52
ESTÉTICA DO SONETO II

Origem histórica do Soneto em Portugal,
no âmbito de uma homenagem ao poeta

SÁ DE MIRANDA ( 1481 – 1558 )


Francisco Sá de Miranda, nascido na cidade do Mondego tudo aponta que no ano de 1481 – sete anos antes de Bartolomeu Dias dobrar o Cabo das Tormentas – cursou Humanidades na Universidade de Lisboa, a mesma que mais tarde seria mudada para Coimbra e cedo iniciou a sua vida cortesã, tornando-se um dos mais novos animadores das Tertúlias do Reino, fazendo companhia a Bernardim Ribeiro, a Garcia de Resende e ao grande Gil Vicente.
Foi a partir de 1521 – ano do término da 1ª Viagem de Circum-navegação e ainda no reinado de Dom Manuel I – que tudo mudou na sua vida quando, por sugestão do próprio Rei, beneficiou da situação de bolseiro, em Itália.
Após a sua chegada a Itália, influenciado pela «Revolução nas Artes da Renascença» , iniciou também ele uma profunda renovação literária tomando conhecimento com as novas formas poéticas então em voga. Imperava naquela época o dolce stil nuovo, dentro do qual sobressaía um novo “metro” para poetar e novas formas estéticas de poemática. Passa a conhecer os versos decassilábicos ( modelo italiano ), as oitavas, os tercetos perfeitos, as elegias, as canções, as éclogas, as cartas poéticas e, principalmente, o grande ex-libris dos principais poetas: o Soneto. Para ele todo este acervo literário eram inovações. A todas estas formas poéticas vai ele mais tarde, já em Portugal, denominar como “versos de medida nova”, isto é, formas poéticas diferenciadas das que constavam no já ultrapassado Cancioneiro Geral.
Durante cerca de seis anos conviveu por toda a Itália com poetas como: Bembo, Sannazzaro, Sadoleto, Ariosto e Vitória Colonna. De regresso a Portugal terá conhecido Garcilaso e Boscán com os quais ficou correspondendo-se com frequência. Já em Portugal divulgou então as suas grandes novidades, nomeadamente o Soneto, com destaque para os da autoria do famoso Francesco Petrarca a quem ele prestava os maiores louvores e, claro, os seus próprios.
Foi muito admirado por essa sua atitude, sendo seguido muito de perto principalmente por: Pedro de Andrade Caminha, Diogo Bernardes, Jorge de Montemor, Luis de Camões, claro, e António Ferreira. Foi dele que este último escreveu um dia:

“Novo mundo, bom Sá, nos foste abrindo
com tua vida e com teu doce canto”.

Ora este doce canto era nada mais nada menos que a nova moda dos SONETOS: 

1- O sol é grande, caem coa calma as aves, 

     Do tempo em tal sazão que sói ser fria: 

Esta água, que d'alto cai, acordar-me-ia, 

Do sono não, mas de cuidados graves. 


Ó coisas todas vãs, todas mudaves, 

Qual é o coração que em vós confia? 

Passando um dia vai, passa outro dia, 

Incertos todos mais que ao vento as naves! 


Eu vi já por aqui sombras e flores, 
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Vi águas, e vi fontes, vi verdura;

As aves vi cantar todas d'amores.


Mudo e seco é já tudo; e de mistura,

Também fazendo-me eu fui doutras cores;

E tudo o mais renova, isto é sem cura.


*

Aquela fé tão clara e verdadeira,
A vontade tão limpa e tão sem mágoa,
Tantas vezes provada em viva frágua
De fogo, vi apurada, e sempre inteira;

Aquela confiança, de maneira
Que encheu de fogo o peito, os olhos de água,
Por que eu ledo passei por tanta mágoa,
Culpa primeira minha e derradeira,

De que me aproveitou? Não de al por certo
Que dum só nome tão leve e tão vão,
Custoso ao rosto, tão custoso à vida.

Dei de mim que falar ao longe e ao perto;
E já assi se consola a alma perdida,
Se não achar piedade, ache perdão.


***


Publicado por FRASSINO MACHADO em 30/12/2007 às 22h52

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