ASSIM FALOU ANA GODOY
Olá, caríssima amiga,
e ilustríssima colega de profissão,
Estou-lhe imensamente grato pelo contributo por si prestado à «depuração literária», e não só, que eu próprio me impus ! E por ser uma tarefa de alto desgaste intelectual, não só cognitivo como estético, é que eu ( como V. disse, e bem, com humildade cultural ... que nos dias de hoje sabemos que escasseia ! ) recorri às minhas amizades mais chegadas ( cerca de três dezenas... dos mais diversos quadrantes de Instrução, incluindo Académica ! ) e solicitei o favor das suas apreciações.
Desde já lhe digo que as minhas expectativas não serão em vão. Em dois dias já recebi uma terça parte das apreciações (11). A sua foi das primeiras que recebi - por gentileza da Neida, minha amiga de há muito - a qual, à primeira vista, necessariamente aligeirada, me agradou sumamente. Toda ela, sem menosprezar as demais, tem os "requisitos essenciais" para que eu dali retire uma maior consistência acerca dos conceitos que esgrimi ao longo do meu texto que, pode crer, não foi feito com intuito académico. Antes, e apenas, como forma de opinião pessoal, tendo na sua articulação uma estrutura orientada para debate, como consta do enunciado em epígrafe, àcerca do estado actual da Expressão Poética.
Só receio que as suas apreciações, tendo em conta o seu evoluir - reforçado por um colorido didáctico sem precedentes - tenham sido feitas "muito pela rama" e, elaboradas tão rapidamente no seu articulado, que só me vem à ideia aquela fábula magistral de "a raposa e as uvas"... ou então, como dizia um sábio ( não tenha medo que já lhe digo o nome ! ) lusitano da Clássica de Lisboa ( que foi meu professor "catedrático eventual", por pena minha, porque se tivesse sido "ordinário" eu não erraria tanto na gestão literária que ousei formular ) chamando a atenção aos alunos apressados ( "se bêm me lêmbro!" ) quando escreviam ou diziam patacoadas sem rei nem roque, isto é, com rapidez : "ó menîno modêre a língua, senão fîca sem êla" !... Não sei se adivinhou que estou falando de Vitorino Nemésio... Mas, para concluir, nunca me esqueço de que esse mesmo sábio nos dizia e repetia ( "se bêm me lêmbro!" ): "menînos, para êvitar as patacoâdas, quê não tivêram têmpo de crescêr e amâdurecêr, há quê contêmplar não só o têxto, como e essêncialmênte o con - têxto ! "... A propósito, também acerca do nosso caso, poderia citar à medida ( já que é "exigente" neste campo! ) o grande Jorge de Sena, em "Os Grão-Capitães" que a dado passo chama a atenção de uma forma magistral para a tentação do Narcisismo Académico que reina nesta Casa. Ele referia-se não a Portugal ou à Clássica de Lisboa mas, antes, á LUSOFONIA , de que ele foi um dos grandes baluartes nos anos sessenta e setenta, como sabe...
Mas, para não a maçar mais com os meus arrazoados ( longe de mim pretender criar um caso à maneira dos contenciosos arcádicos entre Bocage e Agostinho de Macedo... vão de retro as BESTAS ESFOLADAS e a PENA DE TALIÃO ) prometo-lhe que prepararei uma intervenção "de melhor qualidade" depois de ler «com mais tempo» as suas próprias considerações.
Sabe que - não é o seu caso, como é óbvio - as colaborações que reputo de melhor qualidade são as últimas que costumo receber... e quase sempre de quem tem boa solidez académica e «experiência» q. b. !
Creia-me seu admirador e, esperando com ansiedade a volta do Correio, sou o poetAmigo sempre
Frassino Machado
N. B. Espero que visite, com frequência, todas as minhas Páginas Poéticas nomeadamente :
JARDIM DE ORFEU
CANTO DE FRASSINO
MIRADALTO
JANGADA AZUL