26/05/2007 15h28
PUBLICIDADE, CONSUMISMO E EXPLORAÇÃO
«CARTA ABERTA AO MUNDO»
Por Assis Machado, em nome da Família Machado Exma. Administração das SELECÇÕES DO READER’S DIGEST Apartado 1868 1018 Lisboa Codex Nota Introdutória – Antes de publicar esta nossa Carta quero esclarecer que o conteúdo da mesma remonta à data de 15 de Fevereiro de 1986 por alturas de uma fase desenfreada de Campanha internacional desta destacada Empresa. Sendo assim esta nossa posição de hoje tem apenas um objectivo pedagógico-literário, sem aquela carga emocional de protesto intencional que na altura lhe pusemos. Apenas afirmamos que o objectivo em vista com essa atitude foi plenamente atingido. Concluindo, queremos agradecer aos actuais directores administrativos da Reader’s Digest, aos quais cumprimentamos cordialmente, o facto de terem levado em conta esse nosso protesto, pois desde essa data até hoje – e já lá vão vinte e um anos – jamais voltaram a insistir no envio para a nossa mansão da massacrante publicidade. «Após termos recebido, eu e meus familiares, a correspondência de teor mercantil por V. Excias enviada e, não aguentando já a acção dos titãs de Hermes – vencida que foi a nossa resistência a Cronos – eis-nos respondendo de uma vez por todas, e pela última com certeza, à Vossa ousada persistência em conquistar-nos, isto é, colonizar-nos lançando-nos na rede dos interesses puramente económicos e, por consequência, anti-humanistas. Pondo de parte as vossas justificações de índole cultural e sociológica que, na nossa perspectiva, não correspondem à verdade nem sequer às necessidades prioritárias do mundo a que se dirigem, sendo por isso altamente demagógicas, reputamos de injustas e exploratórias as vossas estratégias publicitárias. É que Cultura, justiça e razão caminham sempre de mãos dadas quer nos reportemos à clientela de Atena ou apenas fiquemos nos meandros dionisíacos que brotam inconscientes da alma ingénita popular do seio da qual se sente advir o calor da sabedoria. Quiçá, todo o mundo sabe que injustiça e exploração jamais encaixam com a Cultura e como tal os vossos métodos, navegando ao sabor do Mito, do qual são meros agentes, resultarão fatalmente, mais tarde ou mais cedo, em rotundos fracassos... Já vai para dois anos que assistimos, impávidos e serenos, às vossas representações e investidas no campo da tragédia comercial. Mas passaram sempre ao nosso lado os dardos que foram lançados ao sossego deste santuário familiar onde as preocupações culturais ultrapassam de longe as meras orgias quotidianas destinadas não à difusão de ideias humanistas mas, e sempre, à acumulação da riqueza oriunda do manuseamento do “metal” que de Apolo só apenas reflecte a cor das suas periferias. No seu interior esta acumulação comporta temerariamente as trevas e as poeiras que de Hades incarnaram sua essência. Estamos certos que as Vossas tentativas não continuarão porque, e não ousando nós sermos o Prometeu mítico do heróico culto helénico, a todo o homem que se sente apoiado no Logos institucional e ( porque não? ) constitucional resta sempre uma oportunidade para, vencido Cronos, repor a objectividade das coisas, a justiça do oráculo racional e também o direito da defesa e da integridade doméstica de quaisquer cidadãos. Porque, como dizia o Príncipe dos filósofos, “a virtude não vem da riqueza e da exploração, mas sim estas daquela”, cremos estar certos da justeza da nossa posição. Ademais, fazemos votos que as vossas tarefas de ordem económica e financeira não ultrapassem as raias da Razão e do justificável (colocando de permeio insinuações tendentes à manipulação e à burla, o que reputamos de minimamente lamentável!) mas antes sigam um verdadeiro caminho de autêntica informação/formação de âmbito integralmente humanista e cultural. É que Verdade e Hombridade sempre foram e hão-de continuar a ser o sal e o húmus da sabedoria e da cultura sociais. Reconhecendo, entretanto e todavia, as vossas altas competências, salvaguardadas as vossas originais e mais honestas ideias, auguramos para Vossas Excias os melhores auspícios e reiteramos sinceros votos de um maior alargamento dos já conseguidos êxitos no campo cultural e empresarial. Ficaremos sempre ao Vosso dispor e, agradecendo desde já a Vossa atenção somos com a máxima consideração, Família Machado. » Publicado por FRASSINO MACHADO em 26/05/2007 às 15h28
|