12/05/2007 13h18
O ABORTO DA CONCORDATA
Por
Assis Machado Bento XVI, na sua já polémica visita ao País das Liberdades – o Brasil – terá sentido, de uma forma bem intensa e inesperada, o amargo da desilusão. Presidente Lula da Silva contribuiu inconscientemente, logo à chegada do Papa, para que se instalasse de imediato esse clima propício. À sua chegada às Terras de Vera Cruz o Sumo Pontífice não abalizou com toda a objectividade a dimensão do terreno minado que pisava. E vai daí exibiu perante o Estado brasileiro o sempre melindroso dossier de uma Concordata Bilateral inter-Estados, sem acautelar as devidas reservas diplomáticas. A resposta a esta “proposta”, por parte de Lula da Silva, a fazer-se fé na grande maioria dos órgãos de comunicação social, foi um Não! A sugestão ( entenda-se directiva ) do Vaticano de uma Concordata para tempos futuros exigiria por parte dos dois Estados um estudo prévio e aturado das condições existentes nos respectivos países, bem assim um estudo objectivo das realidades históricas da mentalidade social vigente. Ora uma Concordata proposta assim, a frio, ainda por cima num tempo em que questões como o casamento pela Igreja, o aborto, o divórcio, a homossexualidade, os privilégios eclesiais, o laicismo educativo, etc, estando já mais que debatidas e assumidas pela generalidade da população, estava desde logo condenada à partida, isto é, ela mesma morreu à nascença que é como quem diz, abortou. Num país de francas liberdades – desde o longínquo e glorioso grito do Ipiranga, no qual Dom Pedro traçou pela força da espada e do coração os rumos certos de um horizonte futuro – e da crença quotidiana na força do destino e da alegria de viver, em que uma filosofia de vida assente no imediato das realizações está mais que consolidada e assumida, ou não fora o Brasil o país do Carnaval, um acordo em que a hipocrisia e o odor a mofo estão mais que embrenhados só poderia ter este desfecho: o Não ! E não será por esta via que o Vaticano chega lá. Com ou sem Ratzinger no leme o caminho só pode ser um: o da abertura aos sinais do Tempo e o do diálogo inter-povos. Qualquer outra metodologia estará sempre condenada ao fracasso. E isto não tem nada a ver com o espírito religioso e muito sui generis do povo brasileiro, no que diz respeito a questões de crença e de fé. A problemática de hoje é bem distinta daquela que se viveu no passado. No presente há que olhar de frente as realidades, debatê-las e, no essencial, optar pelas melhores soluções consensuais. As teorias sacralistas e fora de moda já não encontram eco nas preocupações existenciais dos povos. No nosso Século XXI há que apostar no neo-humanismo militante que traz no seu bojo, desde cedo, aquelas energias positivas que vão atraindo cada vez mais as novas gerações. Publicado por FRASSINO MACHADO em 12/05/2007 às 13h18
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