01/09/2012 19h26
FERNANDO PESSOA EM DEBATE - 01
Por Assis Machado Questão fundamentante, colocada pelo sr. António Patrício “Ex.mo Senhor Frassino Machado, sendo Fernando Pessoa o que afirma ser qual é o lugar da poesia de Pessoa na Literatura Portuguesa sendo que aqui uso literatura como Cultura e o seu lugar... Ou seja: dos seus escritos?” Caro amigo Patrício – permita-me que o considere como tal – indo directo à questão aqui exposta, a qual agradeço e louvo porque é deste modo que eu entendo o conceito de Cultura, passo a referir-lhe que o lugar literário de Pessoa, comummente entendido, tem sido considerado de modernista… todavia, quanto a mim, ele deve ser entendido como um percursor do actual pós-modernismo. Muitos pensadores ensaístas nacionais e estrangeiros de hoje (dispense-me do relatório enfastioso que poderia citar) têm ousado afirmá-lo. Ademais as marcas estilísticas usadas por Pessoa, como sejam o profetismo, o para psiquismo, o nacionalismo desestruturado, a pluri- identidade contraditória, a própria ficção messiânica, a depressão contínua assumida (imagem da época) e a tendência dependente de alucinogénios salvíficos, dão-nos a sensação de que o nosso homem é, de facto, um percursor dos tempos de hoje – a era da globalização cultural, cuja prerrogativa é ter um défice estranho de valores, tanto os da Arte como, intrinsecamente os da Cultura. Portanto, na minha perspectiva, ele é um pós modernista. Agora, é evidente que Fernando Pessoa sempre tem sido considerado, pela maior parte dos especialistas actuais, mais um filósofo/pensador do que propriamente um literato, o que só reforça o que afirmei acima. Neste contexto todo o acervo dos seus escritos é bem-vindo. Porque, apesar de muitos deles serem interpretados de uma forma discricionária são, em si mesmo, uma pluralidade de “formas de ver e sentir o mundo” na realidade que o envolve. Assim, quer os escritos “poéticos”, vulgo prosa poética, quer os seus ensaios, bem como o seu epistolário ou mesmo até os simples panfletos, são no seu conjunto um manancial digno de investigação e de reflexão. Daí eu defender a ideia de que Pessoa é tão só um «ponto de partida». Não sei se respondi cabalmente – tarefa ciclópica para o assunto em causa, ficando como é óbvio muito por dizer – à questão que me colocou. Mas fiz um exercício reflexivo, creio, suficiente para que o debate se considere proveitoso e positivo. Que lhe parece? Creia-me seu admirador e, fazendo votos de um fim-de-semana profícuo e repousante, receba um abraço cordial do poetAmigoaodispor Frassino Machado https://facebook.com/pages/tertulia-poetica-ao-encontro-de-bocage/129017903900018 Publicado por FRASSINO MACHADO em 01/09/2012 às 19h26
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