31/08/2012 20h24
É PESSOA E BASTA!
Por Assis Machado Estimada amiga, por aquilo que afirma tão taxativamente acerca de Pessoa vê-se que o tem lido muitíssimo, é verdade? Olhe, ainda hoje, a uma minha comentadora que afirmara que “quanto mais lia Pessoa menos o entendia” eu apenas respondi: Fernando Pessoa é sempre «um ponto de partida e nunca de chegada», isto é, se quem fala dele apenas é “repassador do que outros já o disseram”, então, andará à volta de uma espécie de mito/ficção já que as ideias feitas acerca de alguém, para serem objectantes, têm que passar pelo crivo da crítica e da inteligência. O próprio Pessoa sempre confessou ser um fingidor, quer dizer, um representador teatral que vestia a pele identitária conforme as circunstâncias. Daí aquela caterva de heterónimos que, em abono da verdade, são por vezes anacrónicos. Era uma forma de ele se divertir, divertindo. A sua postura (CULTURA?) era uma espécie de jogo, quase sempre sem regras fixas. Daí a complexidade reflexiva que a sua escrita provoca nos leitores incautos. Aquilo que eu recomendo é que quem o lê o faça segundo os parâmetros próprios da mentalidade da sua época: uma época de depressão e de despersonalização racional. Ademais é sintomático o ele ser portador de um temperamento altamente depressivo e despersonalizado. Todavia, como lhe disse acima, Pessoa não passa de um «ponto de partida» e nada mais! Podemos concluir que ele é ajustadamente mais um filósofo do que um literato/poeta. Quanto a mim confesso que gosto de o ler, mas não embarco na onda do “diz-se por aí”, como aliás já o afirmou, e bem, Eduardo Lourenço quando disse um dia que “quem afirma Pessoa, sem o ler profundamente, de certeza que sai asneira”. Desde já recomenda-se a quem lê Pessoa que faça um exercício crítico honesto e aturado e verifique a posteriori o resultado. Assis Machado https://facebook.com/pages/tertulia-poetica-ao-encontro-de-bocage/129017903900018 Publicado por FRASSINO MACHADO em 31/08/2012 às 20h24
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