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Meu Diário
30/08/2012 19h09
CRÍTICA LITERÁRIA - POESIA DE FRASSINO MACHADO

ENSAIO LITERÁRIO DE ANGELO MANITTA 

 

Obra poética: «VIA CRUCIS»

 Angelo Manitta : director da Revista Italiana IL CONVIVIO (*)

Um dos principais eventos da religião cristã é a Páscoa que, vai desde o Domingo de Ramos, passando pela Crucifixão na Sexta-Feira Santa, até ao Sábado da Ressurreição. A Via Crucis é a via da cruz que cada ser humano atravessa ao longo da sua existência. A cruz é sinal da dor e do sofrimento que ele comporta em cada dia. Para os Romanos esse era o castigo para os escravos e para os prevaricadores que não eram cidadãos de Roma. Um acto ignominioso que se tornava muitas vezes um símbolo de força e sublimação para os cristãos.

A crucifixão caracteriza sempre um dos eventos segundo o qual os cristãos têm representado, desde os primeiros evangelhos, referentes à Paixão – tendo em vista os quadros típicos medievais – e nos quais a figura de Cristo e de sua Mãe simbolizam o principal acto narrativo e religioso. Em Itália é muito famosa a representação de Jacopone da Todi. Muito simbólica é também a Imitação de Cristo de São Tomás de Kempis, para não citar a numerosa obra figurativa de toda a época medieval. Ainda hoje a Crucifixão é objecto de meditação e de criação artística.

Neste contexto a Via Crucis de Frassino Machado, poeta português, que em vinte e um Quadros descreve a via da Cruz a partir do Domingo de Ramos até à Ressurreição. A visão do poeta é muitíssimo actual. O sofrimento humano de Cristo reporta-se ao fenómeno do homem contemporâneo. O Domingo de Ramos simboliza, em si mesmo, uma autêntica “passarela de ilusões”: o brado de hossanas ao Filho de David carrega em si uma onda colectiva hipócrita; a Última Ceia, não passa de um banquete de oportunistas; a traição de Judas é a suma trama de hipocrisia e fingimento. Quanto a Cristo, no seu sofrimento, é acompanhado de gente mesquinha, de rosto insensível, que nada se impressiona com seus gestos e decisões, encarando-o friamente. Nesta mesma envolvência surge em destaque a figura de Pilatos ou a do Sumo-Sacerdote. Porém, ressalva-se a dos seus mais chegados, que testemunharam este sofrimento: os discípulos, Sua Mãe e Maria Madalena.

Paixão e dor, vida e morte, sensibilidade materna e ambiência de amor constante, retiramos deste poema de Frassino Machado que, não só consegue transmitir em verso a Paixão de Cristo mas, acima de tudo, consegue envolver qualquer leitor com a sua poesia e a sua rima e, fundamentalmente, com a sua veracidade cristológica.

Interessante e belo é o Quadro final, o qual pinta o espanto da Madalena perante o facto consumado da Ressurreição, transbordando um sentimento de enorme ânsia para com o seu Senhor, sob o título “A pedra tumular”. Vejamos:

A PEDRA TUMULAR - O ouro do silêncio

Correndo em frente pela madrugada
Até o sepulcro muito pressurosa
Para surpresa sua dolorosa 
Maria viu a pedra desviada.

A parábola sacra aconteceu
Na ânsia de Magdala pelo alvor:
- Não viste, jardineiro, o meu Senhor?
Mas só a breve aragem respondeu.

Passando além da pedra sepulcral
Ao ver no chão as brancas ligaduras
Elevou os seus olhos às alturas
E ouviu estranha voz a proclamar:

- Quem procuras, Maria, aqui tão cedo,
Antes da luz brilhar no horizonte?
- Vim procurar o Mestre junto à fonte
Pois foi aqui deixado em segredo.

Regressando, lavada em suor,
Disse aos amigos, na sala reunidos,
Gritando com espanto aos seus ouvidos:
- Ressuscitou, eu vi o meu Senhor!

Fez-se brutal silêncio tumular,
E enquanto Simão Pedro não chegou
Aquela Boa Nova contentou
Os fracos corações a palpitar!...

Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

(*) – Revista italiana IL CONVIVIO, n.º 49, Abril-Maio de 2012, pg. 51, da:

ACCADEMIA INTERNAZIONALE IL CONVIVIO, em:

www.ilconvivio.org


Publicado por FRASSINO MACHADO em 30/08/2012 às 19h09

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