10/05/2008 15h47
A LÍNGUA PORTUGUESA EM TRAPOS DE POLÉ
Por Vitorino Magalhães Godinho Nota – O autor é figura cimeira da nossa Historiografia Nacional, autor de Obras fundamentais da Cultura Contemporânea, como História Económica e Social da Expansão Portuguesa , professor universitário jubilado com um raro currículo e Ministro da Educação e Cultura, logo após o 25 de Abril, o Dr. Vitorino Magalhães Godinho é frontalmente contra o «Acordo Ortográfico» - o de 1990, agora ratificado por Portugal, mas não só ! QUEM ME AVISA ... - «O Português está a ser esfacelado pela bacoca anglicização do vocabulário e maneiras de dizer e pela preocupação tecnológica com uma linguagem própria sem base cultural» ; - «Que uma escola estrangeira estabelecida entre nós ofereça os Cursos na respectiva Língua, compreende-se e é um enriquecimento; que seja uma escola portuguesa a mascavar os seus Cursos em Inglês, por mais Shakespeariano que seja, é intolerável; e chega-se à humilhação de serem os estudantes estrangeiros a requererem que os Cursos sejam dados em Português – como é de toda a lógica!» - «A introdução de estrangeirismos justifica-se sempre que se trate de ideias ou realizações novas e não disponhamos de equivalente na nossa língua. Mas tem-se generalizado a adopção de aportuguesamentos de léxico estrangeiro quando dispomos de equivalente a dispensá-los, e num e noutro caso construímos formas atrabiliariamente, acabando por forjar vocábulos que ofendem o bom-senso e o bom-gosto» - «Mas um tópico merece ainda ser abordado: os nomes geográficos. Está na moda aportuguesá-los, e já foi costume ir buscar a forma latina para dela tirar a designação actual. Esquece-se que os topónimos são nomes próprios, e como tal não devem ser alterados; certas formas reportam-se a épocas determinadas, por exemplo ao período romano – não há por isso razão para passar a escrever Oxónia em vez de Oxford, ou Lugduno por Lyon » - «A nossa Língua tornou-se um futebol: anda tudo aos pontapés às palavras, sem acertar com as balizas». - «A Cultura tem de ser rigor e exigência crítica, e não se constrói a democracia com bugigangas de pacotilha; o cidadão tem de educar-se para a dificuldade». Do JORNAL DE LETRAS, N.º 978 Publicado por FRASSINO MACHADO em 10/05/2008 às 15h47
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