CANTO DE FRASSINO

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FALANDO DE GUIMARÃES
Nunca como nesta semana se tem falado tanto desta distinta e ilustre Cidade. Guimarães marca presença em todas as páginas de jornais, revistas e programas televisivos. Mas… pelos piores motivos: cidade de arruaceiros, de antros de violência, de vigaristas, de agitadores profissionais, de gente xenófoba, racista, internacionalista, capaz do pior, como a traição e o degredo, etc. É tal o desplante que é caso para se perguntar: qu´ é dos outros?
Mas, por outro lado, também o escreveu o grande Alexandre Herculano, em meados do século XIX (na imprensa lisboeta): quereis ter uma imagem autêntica da alma de Portugal? Ide a Guimarães e observai à vossa volta! Daqui saíram os primeiros jograis e trovadores; daqui saíram os grandes cinzeladores e ourives; daqui saíram os primeiros e grandes artistas de dramas, farsas e comédias. Ninguém se pode esquecer nunca do fantástico Gil Vicente.  
Por estas e por muitas outras mais é que esta insigne Cidade foi já “Capital Europeia da Cultura 2012”, tornando-se, principalmente desde essa data, pioneira de imensas acções artísticas e culturais de que há memória no nosso País. E quem pode olvidar que AQUI NASCEU PORTUGAL …
Posto isto, será que ainda se vai “malhar mais em Guimarães” devido aos tristes distúrbios futebolísticos do passado fim-de-semana? Cá está: “casos Maregas”, tem havido imensos de norte a sul, desde há vários anos. E nunca tanto se falou como hoje desta Cidade, mas… pelos piores motivos.
Sugerimos, sim, que as Instituições Supremas deste País – a começar pela Assembleia da República – debatam seriamente todos estes fenómenos nacionais, desde a Educação Integral, à Cultura, à Ciência, à Segurança e até aos lazeres mais banais. É seu dever e obrigação e é seu ofício. Se o fizerem com arreganho e com inteligência, ah, sim, irão descobrir verdadeiramente as verdadeiras chaves-mestras para solucionarem de vez estes nefastos problemas que são de todos. E sigam, de uma vez por todas, a regra de oiro democrática: não chega falar por falar, há que levar à prática. As tradicionais parangonas-de-venda-de-jornais, já todos os portugueses descobriram que não levam a lado nenhum!
Recordemos, oportunamente, um excerto de um famoso artigo de AS MEMÓRIAS DE ARADUCA, escrito já neste século XXI:
«Há quem tenha dos vimaranenses a imagem de homens e mulheres circunscritos ao seu castelo, aos redutos da memória, do passado e das tradições imutáveis. Não, nada mais distorcido da verdade.  
Os vimaranenses são cidadãos do Mundo. Ao longo dos séculos, também constituíram a sua diáspora. Eles estão por toda a parte, espalhando o nome desta terra, como não acontece com nenhuma outra, desde a sorridente Bárbara, estrela da TV, à última Miss Brasil, Natália, passando pelo carismático seleccionador da Costa Rica no último Mundial de Futebol, Alexandre. Todos eles são “Guimarães”.
Consta mesmo que no Brasil haverá mais “Guimarães” do que em Guimarães. Até na política: um notabilíssimo Guimarães, Ulysses, foi presidente, por duas vezes, da Câmara dos Deputados. E ninguém o negará: sem os Guimarães, a literatura brasileira seria bem mais pobre. São Guimarães, por exemplo, o Rosa, que no Brasil renovou o romance, e o Bernardo, que escreveu as aventuras e desventuras da desditosa Escrava Isaura, assim como o poema imoral A Origem do Mênstruo, que basta ser lido para se perceber que só podia ter sido escrito por um dos nossos.
Como bons portugueses, os vimaranenses, além de historiadores, também são poetas. O maior de todos os poetas de Guimarães também era brasileiro e chamava-se Alphonsus Henriques de Guimaraens Filho. Existirá porventura nome mais vimaranense do que este?
Nos vimaranenses ademais há um lado beato e outro bentinho, que Raul Brandão, que bem os conhecia, descreveu magistralmente em A Farsa. Alguns deles, chegam a ter cheiro de santidade. Mas também são gente dotada de uma ironia escarninha e libertina, por vezes escatológica, que iluminam com um vernáculo sonoro, desapiedado e desconcertante. Assim se explica que eles alcunhassem de procissão do “caga-ratos” uma das mais antigas e solenes manifestações da sua religiosidade, o cortejo do Corpus Christi.
Dizem dos de Guimarães que são gente sem lei. Nada mais injusto. Para os de Guimarães há leis que são sagradas. As suas, mesmo que não estejam escritas.
Dizem também, inspirando-se em certa figura que espreita do alto para a praça da Oliveira, que os de Guimarães têm duas caras. Não é verdade. Têm muitas mais, porque cada vimaranense tem a sua. E apenas uma. Com excepção do Cucúsio, que tinha duas.»
António Amaro das Neves, Os Vimaranenses, edição do Cineclube, Guimarães, 2007, in MEMÓRIAS DE ARADUCA.
Aproveitemos estas achegas preciosas, e muitíssimas outras que poderíamos citar largamente e, na balança da cidadania que importa implementar, coloquemos nos dois respectivos pratos aquilo que é positivo, de um lado, com o que é negativo, do outro.
Concluiremos, obviamente, que o POSITIVO esmaga rotundamente o lado oposto.

Assis Machado / Frassino Machado
18 - 02 - 2020
Obs. Escritor e poeta, natural da Cidade de Guimarães.
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 18/02/2020


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