CANTO DE FRASSINO

Os meus horizontes são de Vida e de Esperança !

Textos

O PALCO DO MUNDO 1
Por
Frassino Machado


I

Estava no ar um clima austero de Outono. Havia chovido pluviosamente durante a longa madrugada. Eram nove horas da manhã quando as sirenes anunciavam o início de mais um dia administrativo em Manahatan. Dos tormentosos autobus e dos silenciosos metros do ventre da terra saíam filas intermináveis de seres humanos que se comprimiam e acotovelavam sem interrupção na direcção de múltiplos horizontes. Ora para os fantasmagóricos passeios de Wall Street, ora para as pracetas enjauladas entre os arranha-céus da Big Aple, ora para as ruelas walter scoteanas por onde até os táxis mais ousados se perdiam de vista.
Subo no elevador do lado do nascente da Torre de Vanderhill, onde se adensam desordenadamente miríades de escritórios e de filiais de empresas do Velho Mundo. Cheguei ao nono andar e apeei num corredor atapetado por uma passadeira grená meia roçada desde as azáfamas pedonais dos gloriosos anos vinte. O corredor bordejado de altaneiras janelas semi-vidradas conduziu-me até um espaçoso salão de espera com um velho bar voltado a poente. Por aqui e além viam-se alguns roçados sofás e um ou outro maple fora de moda, nos quais se sentavam com bonomia balofa alguns já chegados funcionários que, em dois nacos de tempo davam a primeira vista de olhos ao periódico desse dia acabado de chegar no avião das oito. Nele viajaram frescas novidades oriundas de Madrid. Estava na hora do café das nove que aromatizava todo aquele espaço envolvente.
- Oi, amigo Talavera – disse eu elevando a voz para junto do balcão do bar – como vai dessas costelas ? - Olé, Franz, prazer em vê-lo! Ainda há pouco perguntei por si na recepção e logo soube que o meu amigo nunca falta as estas sessões da especialidade! - Pois é verdade, hombre, nunca iria perder esta oportunidade ! - Sabe que temos um dia mesmo a calhar ? Também cá vem o Mac, nosso tenaz competidor das lides palavreiras... Esperemos que desta vez não nos obrigue à tradução, em simultâneo, da palestra. - Só faltava cá essa, Franz ! Mas, desta vez o cavalheiro não se vai sair a contento! Olhe, eu vim prevenido com o meu rew-report, para não falar de um outro gravador que lá tinha que, eventualmente, pode dar algum jeito a qualquer dos nossos colaboradores. - Fez bem em se lembrar disso, respondi eu. - Amigo Franz, vai um madrilete ? Pergunta-me Talavera que sabia do meu fraco por esse café familiar das sadias esplanadas do Escurial !
Ali passámos cerca de vinte e cinco minutos em cavaqueira amena, até que chegou finalmente a hora da Sessão destinada a repórters e escritores que se alistaram para a preparação da próxima Conferência de Imprensa da qual dependeria daí a dois dias – quem sabe ? - a decisão para a opção antecipada da Eleição Presidencial. Toda a América sabe bem que a escolha é crucial e dela dependerá a decisão que cada cidadão há-de tomar no próximo dia dois de Novembro.
Aqui prepararemos as nossas intervenções e as questões que, segundo a nossa intuição e engenho, conseguirmos fazer chegar aos dois Ianques maiorais. No fundo, todos nós iremos constituir os pivots admiráveis que digitarão, sem pestanejar nem recear, as questões mais óbvias e escaldantes. - Ai, Bush dos cowboys e das sonolentas e bizarras festanças dos texanos Ranchos, espera pela nossa hora! Ela chegará um pouco antes do momento que julgas! - Ai, Kerry dos primaveris boulevards e dos musicals regados com o chá parisiense de Notre Dâmme, conta connosco! A hora está marcada para que não tenhais folgo bastante para enganardes os tristes inocentes. - Preparai-vos, vós ambos generais do Palco do Mundo, para representardes, quiçá, a vossa última cena! Decorai bem que vosso papel de artistas – fantoches ou não – depende da verdade das palavras que ousardes esgrimir perante uma ávida plateia que, quanto a nós, enferma de crença na política e na moral das vossas promessas. Quanto a nós, eu e o Talavera, mais o coitado do Mac que de momento não sei se terá paciência para aguentar os manhosos critérios de escrita que para ele estamos preparando. São assim os ossos do ofício. Manahatan, 10 de Outubro de 2004 Frassino Machado
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 01/12/2006
Alterado em 01/12/2006


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